Crimes, espaçonaves, guerrilhas
CLÁUDIO UCHÓA
Houve uma época em que "O Sol nas bancas de revistas" não era apenas um verso de "Alegria, alegria", música de Caetano Veloso que voltou à tona na abertura da minissérie "Anos Rebeldes" (Rede Globo). Entre setembro de 1967 e janeiro de 1968, "O Sol" iluminou uma geração disposta a mudar o mundo. Idealizado pelo jornalista Jaguar, o jornal reuniu nomes como Ana Arruda Callado, Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony e Martha Alencar. Apesar de durar apenas três meses, influenciou publicações como "O Pasquim".
Lançado em 21 de setembro de 1967 como encarte do Jornal dos Sports, "O Sol" buscava sacudir o marasmo do jornalismo. Sua proposta incluía:
Repórteres estudantes selecionados por concurso (prova de atualidades + redação sobre a minissala);
Linguagem inovadora, com quadrinhos e quebra da estrutura tradicional;
Títulos irreverentes como "Chove paca no Rio", escolhidos por votação democrática na redação.
Entre os colaboradores estavam Dedé Veloso (primeira esposa de Caetano, que imortalizou o jornal na canção), Henfil (em sua primeira experiência no Rio), Ziraldo e Daniel Azulay. A informalidade era tanta que, em uma ocasião, a equipe convocou um gari para decidir a manchete.
Engajamento e repressão
A irreverência não afastou o compromisso político. Otto Maria Carpeaux foi processado pela Lei de Segurança Nacional por um artigo sobre "Fome e Miséria Internacional". O choque com a linha conservadora do Jornal dos Sports levou "O Sol" a circular como vespertino independente — um fracasso financeiro. Sem anúncios e com custos insustentáveis, o jornal fechou em janeiro de 1968.
DEPOIMENTOS
MARTHA ALENCAR:
"Era um grupo jovem que achava que podia mudar o país. Era difícil separar jornalismo da militância. Lembro de correr da polícia enquanto anotava as notícias."
ZIRALDO:
"O jingle do Caetano ficou mais famoso que o jornal. Não concordo que 'O Sol' deu origem ao 'Pasquim'. Foram experiências paralelas."
ANA ARRUDA:
"Era um jornal rebelde, atrevido e juvenil. O momento não permitia que durasse."
A matéria resgata a trajetória de "O Sol", jornal símbolo da contracultura pré-AI-5, que misturou humor, crítica política e experimentalismo gráfico. Sua curta existência reflete tanto o ímpeto criativo da época quanto a asfixia imposta pela ditadura. A menção a Caetano Veloso e "Anos Rebeldes" vincula o passado à memória cultural dos anos 1990, mostrando como a resistência dos anos 1960 ecoou nas gerações seguintes.
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