NOS ACOMPANHE TAMBÉM :

sábado, junho 21, 2025

O Sol nas bancas de revistas

 


Crimes, espaçonaves, guerrilhas

CLÁUDIO UCHÓA

Houve uma época em que "O Sol nas bancas de revistas" não era apenas um verso de "Alegria, alegria", música de Caetano Veloso que voltou à tona na abertura da minissérie "Anos Rebeldes" (Rede Globo). Entre setembro de 1967 e janeiro de 1968, "O Sol" iluminou uma geração disposta a mudar o mundo. Idealizado pelo jornalista Jaguar, o jornal reuniu nomes como Ana Arruda CalladoZuenir VenturaCarlos Heitor Cony e Martha Alencar. Apesar de durar apenas três meses, influenciou publicações como "O Pasquim".

Lançado em 21 de setembro de 1967 como encarte do Jornal dos Sports"O Sol" buscava sacudir o marasmo do jornalismo. Sua proposta incluía:

  • Repórteres estudantes selecionados por concurso (prova de atualidades + redação sobre a minissala);

  • Linguagem inovadora, com quadrinhos e quebra da estrutura tradicional;

  • Títulos irreverentes como "Chove paca no Rio", escolhidos por votação democrática na redação.

Entre os colaboradores estavam Dedé Veloso (primeira esposa de Caetano, que imortalizou o jornal na canção), Henfil (em sua primeira experiência no Rio), Ziraldo e Daniel Azulay. A informalidade era tanta que, em uma ocasião, a equipe convocou um gari para decidir a manchete.

Engajamento e repressão

A irreverência não afastou o compromisso político. Otto Maria Carpeaux foi processado pela Lei de Segurança Nacional por um artigo sobre "Fome e Miséria Internacional". O choque com a linha conservadora do Jornal dos Sports levou "O Sol" a circular como vespertino independente — um fracasso financeiro. Sem anúncios e com custos insustentáveis, o jornal fechou em janeiro de 1968.


DEPOIMENTOS

MARTHA ALENCAR:
"Era um grupo jovem que achava que podia mudar o país. Era difícil separar jornalismo da militância. Lembro de correr da polícia enquanto anotava as notícias."

ZIRALDO:
"O jingle do Caetano ficou mais famoso que o jornal. Não concordo que 'O Sol' deu origem ao 'Pasquim'. Foram experiências paralelas."

ANA ARRUDA:
"Era um jornal rebelde, atrevido e juvenil. O momento não permitia que durasse."


A matéria resgata a trajetória de "O Sol", jornal símbolo da contracultura pré-AI-5, que misturou humor, crítica política e experimentalismo gráfico. Sua curta existência reflete tanto o ímpeto criativo da época quanto a asfixia imposta pela ditadura. A menção a Caetano Veloso e "Anos Rebeldes" vincula o passado à memória cultural dos anos 1990, mostrando como a resistência dos anos 1960 ecoou nas gerações seguintes.

Nenhum comentário :