Por Rodrigo Vergara - Folha de São Paulo - 18- agosto - 1996
O suposto ET de Varginha foi visto por três garotas: as irmãs Liliane Fátima da Silva, 16, e Valquíria da Silva, 14, e Kátia de Andrade Xavier, 22, no dia 20 de janeiro.
Às 15h30 daquele sábado, elas atravessavam um terreno baldio quando Liliane viu algo estranho.
Kátia gritou ao ver o ser e ficou paralisada. Com o grito, a criatura teria movido o rosto para elas, que fugiram, com medo.
"Os olhos eram vermelhos e não tinham pupilas. Não vi boca nem nariz. A pele era marrom escuro e parecia lambuzada de óleo. Ele estava agachado, parecia se proteger do sol forte", afirma Liliane.
Liliane disse à mãe que havia visto "o capeta". A mãe foi ao local. Teria encontrado pegadas e um cheiro que afirma ser de enxofre.
Em poucos dias, a criatura passou a ser identificada como um ET.
Os ufólogos que investigam o caso afirmam ter gravações de depoimentos de militares que dizem terem capturado dois ETS.
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Os dois teriam sido capturados no dia 20 e levados para Campinas, para serem autopsiados. O Exército e os Bombeiros negam ter conhecimento de qualquer criatura estranha.
O cabeleireiro Geraldo Simão Bichara, 53, é prova de que as experiências mais estranhas passam a ser banais com o passar do tempo. "Fui sequestrado e examinado por ETS em 1962", afirma ele, calmamente, em seu estúdio.
Bichara, que mora em Varginha, não altera a voz enquanto conta, detalhadamente, que foi paralisado por uma luz vinda de uma nave estacionada sobre a Escola de Sargentos de Três Corações.
"Quando a luz acendeu, a cidade inteira ficou sem energia. Os cavalos, apavorados, fugiram do estábulo e várias canoas de metal que havia na escola saíram do lugar enquanto a nave flutuava."
Bichara afirma que foi abordado por dois seres vestidos com macacões alaranjados, que o levaram para uma sala e o examinaram com equipamentos estranhos.
"Depois do contato, quando via uma cor ou sentia um cheiro que me lembrasse da história, entrava em transe e vivia tudo de novo", afirma ele, que na época tinha 19 anos e fazia serviço militar.
Bichara diz que só se livrou das visões após fazer uma sessão de hipnose.
"Se eu visse um ET hoje? Eu não contava para ninguém."
A afirmação é de Liliane Fátima da Silva, 16, uma das três jovens que, no dia 20 de janeiro, teria visto um extraterrestre em um lote abandonado em Varginha.
De lá para cá, Liliane precisou mudar de escola e parar de frequentar a casa de alguns amigos, por causa das gozações de colegas que não acreditam na história que contou ao Brasil inteiro.
"Não dava para ficar na escola. Todo mundo me chamava de ET."
A aproximação com o ufólogo Ubirajara Rodrigues pelo menos lhe rendeu um emprego no escritório do estudioso, que é advogado. "Vou ao banco, levo e trago envelopes para ele."
Tímida, Liliane não suporta o olhar de estranhos. Em uma sessão de fotos realizada no centro da cidade, se negou a ficar sob o foco da lente. "Todo mundo vai ficar olhando e vai perguntar de novo a mesma história."
"Quando tudo começou a acontecer, entrevista, televisão e tudo o mais, pensei: em três meses isso acaba. Que nada. Parece que essa história não vai acabar nunca."
Para uma criatura que talvez só exista na imaginação das pessoas, o ET de Varginha (MG) já mobilizou e continua mobilizando muita gente e dinheiro na cidade.
É o caso do taxista e candidato a vereador pelo PMDB José Sanches Tavares, 47, que registrou o nome "ET" na Justiça Eleitoral.
Espera, com isso, embolsar todos os eleitores que quiserem protestar votando no extraterrestre.
Pelas suas contas, a estratégia vai lhe render 100 dos 500 votos necessários para se eleger.
Tavares não faz questão de divulgar a idéia. "Quem foi o corneteiro que te contou?", perguntou ao ser indagado sobre a estratégia.
A tática de Tavares inviabilizou o slogan de outro candidato, José Geraldo Ribeiro, 36, o Zé Carcinha. Após atrelar sua campanha ao bordão "ET vota em Zé Carcinha", Ribeiro decidiu apagar as pixações que havia feito pela cidade.
No auge da febre do ET, camisetas, chaveiros e miniaturas com a imagem do suposto extraterrestre eram comuns em lojas da cidade. Hoje, o comércio é menor.
O supermercado Oba-Oba, no centro da cidade, é um dos poucos que ainda recorrem à aparição.
Pintados em uma das portas do mercado, dois ETS de macacão alardeiam prazos de pagamento "do outro mundo".
"O pessoal tira fotos, filma. O painel chama a atenção", afirma Marly da Silva, 33, gerente.
Publicado em Folha de São Paulo
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