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domingo, abril 30, 2017

Salinger

" (...) achei que ia pegar uma pneumonia e morrer. Fiquei imaginando milhões de chatos indo ao meu enterro e tudo. Meu avô de Detroit, aquele que fica lendo alto os nomes das ruas quando a gente anda numa porcaria dum ônibus com ele, e minhas tias- tenho umas 50 tias- e todos os nojentos dos meus primos. A tropa toda ia estar lá.
Estavam todos quando o Allie [irmão de Caulfield] morreu. Me deu uma pena danada de meu pai e de minha mãe. Só tinha uma coisa boa, era saber que ela não ia deixar a Phoebe assistir a droga do meu enterro porque é muito criança. Ai pensei na cambada toda me metendo numa droga de cemitério, com meu nome num túmulo e tudo. Cercado de gente morta.
Puxa, depois que a gente morre eles fazem o diabo com a gente.
Quando faz bom tempo, meus pais vão ao cemitério e espetam um punhado de flores no túmulo do Allie. (...) não é tão ruim quando faz sol, mas duas vezes quando estávamos lá dentro começou a chover. Foi horroroso.
 Choveu na porcaria do túmulo dele, e choveu na grama em cima da barriga dele. Chovia por todo lado. O pessoal todo que estava de visita saiu correndo para os carros. Foi isso que me deixou doido. Todo mundo podia correr pra dentro dos carros, ligar o rádio e tudo e ir jantar num lugar bacana- todo mundo menos o Allie".

RIP Belchior

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, conhecido simplesmente como Belchior (Sobral, 26 de outubro de 1946 – Santa Cruz do Sul, 29 de abril de 2017),









O roubo do relógio



















Rolando Boldrin

Naquele arraial do Pau Fincado, havia um sujeitinho danado pra roubar coisas. Às vezes galinha, às vezes cavalo, às vezes coisas miúdas. A verdade é que o dito cujo era chegado em surrupiar bens alheios.
Todo mundo daquele arraial já estava até acostumado com os tais furtos. E a coisa chegou a tal ponto de constância que bastava alguém da por falta de qualquer objeto e lá vinha o comentário: ``Ah, foi o Justino Larápio´´.
E foi numa dessas que sumiu o relógio do cumpadi João, um cidadão por demais conhecido por aquelas bandas do Pau Fincado. Foi a conta de sumir o relógio dele para o dito cujo correr pra delegacia mais próxima e dar parte do fato.
O delegado pediu que o sêo João arranjasse três testemunhas para lavrar o ocorrido e então prender o tal ladrãozinho popular. Arranjar três testemunhas de que o tal Justino havia surrupiado qualquer coisa era fácil, dado a popularidade do dito cujo pra esses afazeres fora da lei.
A cena que conto agora transcorreu assim, sem tirar nem pôr. Intimado o Justino, eis ali, ladrão, vítima e três testemunhas:
DELEGADO (para a primeira testemunha) – O senhor viu o Justino roubar o relógio do sêo João, aqui presente?
TESTEMUNHA 1 – Dotô.Vê, ansim com os óio, eu num posso dizê que vi. Mas sei que ele é ladrão mêmo. O que ele vê na frente dele, ele passa a mão na hora. Pode prendê ele dotô!
DELEGADO (para a segunda testemunha) – E o senhor? Viu o Justino roubar o relógio do sêo João?
TESTEMUNHA 2 – Óia, dotô ...num vô falá que vi ele fazê isso, mas todo mundo no arraiá sabe que ele róba mêmo, uai. Pode prender sem susto. Eu garanto que foi ele que robô esse relógio.
DELEGADO (para a última testemunha) – E o senhor? Pode me dizer se viu o Justino roubar o relógio do sêo João?
TESTEMUNHA 3 – Dotô, ponho a mão no fogo si num foi ele. Prende logo esse sem vergonha, ladrão duma figa. Foi ele mêmo!
DELEGADO – Mas o senhor não viu ele roubar? O senhor sabe que foi ele, mas não viu o fato em si?
TESTEMUNHA 3 – Num carece de vê, dotô! Todo mundo sabe que ele róba. Pode preguntá pra cidade intêra.Foi ele. Prende logo esse peste!
DELEGADO (olhando firme para o Justino) – Olha aqui, Justino. Eu também tenho certeza de que foi você que roubou o relógio do sêo João. Mas, como não temos provas cabíveis, palpáveis e congruentes.... você está, por mim, absolvido.
JUSTINO (espantado, arregalando os olhos para o delegado) – O que, dotô ? O que que o sinhô me diz? Eu tô absorvido????
DELEGADO – Está absolvido.
JUSTINO – Qué dizê intão que eu tenho que devorvê o relógio?
Via

Times Square em diferentes épocas

Em 23 de novembro de  2010
1953
Em abril de 2008

1960

1973

1982
em 21 de maio de 2016
Em 1976
1957
1949

Em 29 de abril de 2017

As rondas da memória

Nesta tarde do ano de 1977, se reuniram pela primeira vez catorze mães de filhos desaparecidos. Desde então buscaram juntas, juntas bateram nas portas que não se abriam: – Todas por todas – diziam.
E diziam: – Todos são nossos filhos.
 Milhares e milhares de filhos tinham sido devorados pela ditadura militar argentina e mais de quinhentas crianças haviam sido distribuídas como prendas de guerra, e nenhuma palavra era dita pelos jornais, pelas rádios, pelos canais de televisão.
Alguns meses depois da primeira reunião, três daquelas mães, Azucena Villaflor, Esther Ballestrino e Maria Eugenia Ponce também desapareceram, como seus filhos, e como eles foram torturadas e assassinadas.
Mas a caminhada das quintas-feiras, ninguém mais conseguiu parar. Os lenços brancos davam voltas e mais voltas pela Plaza de Mayo e pelo mapa do mundo.
(Eduardo Galeano em "O Filho dos Dias")
hebe bonafini na plaza de maio

sábado, abril 29, 2017

Que amanhã não seja outro nome de hoje

 No ano de 2011, milhares de jovens, despojados de suas casas e de seus empregos, ocuparam as praças e as ruas de várias cidades da Espanha. E a indignação se disseminou.
A boa saúde acabou sendo mais contagiosa que as pestes, e as vozes dos indignados atravessaram as fronteiras desenhadas nos mapas.
 Assim ecoaram pelo mundo:
Disseram para a gente “já pra rua”, e aqui estamos.
Apague a televisão e ligue a rua.
Chamam de crise, mas é roubo
. Não falta dinheiro: sobram ladrões.
O mercado governa. Eu não votei nele.
Eles decidem pela gente, sem a gente.
Aluga-se escravo econômico.
Estou procurando meus direitos. Alguém viu por aí?
Se não deixam a gente sonhar, não vamos deixá-los dormir
 (Eduardo Galeano em "O Filho dos Dias")



sexta-feira, abril 28, 2017

Pato Fu


Drácula” (1931)

Admiro muito“Drácula” (1931) de Tod Browning. Porém, dizem que boa parte do filme foi dirigida pelo fotógrafo alemão Karl Freund, responsável por muitos dos clássicos do expressionismo alemão. Sim. O visual do filme é uma obra-prima.







Jorge Benjor


Classic Universal Monsters



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Este inseguro mundo

Hoje, Dia da Segurança no Trabalho, vale a pena lembrar muito bem que hoje em dia não há nada mais inseguro que o trabalho.
Cada vez são mais e mais os trabalhadores que despertam, cada dia, perguntando: – Quantos sobraremos? Quem vai me comprar?
Muitos perdem o trabalho e muitos perdem, trabalhando, a vida:
 a cada quinze segundos morre um operário, assassinado por isso que chamam de acidente de trabalho.
A falta de segurança pública é o tema preferido dos políticos que desatam a histeria coletiva para ganhar eleições.
Perigo, perigo, proclamam: em cada esquina um ladrão ameaça, ou um violador, ou um assassino. Mas esses políticos jamais denunciam que trabalhar é perigoso, e que é perigoso atravessar a rua, porque a cada vinte e cinco segundos um pedestre morre, assassinado por isso que chamam de acidente de trânsito;
 e que é perigoso comer, porque quem está a salvo da fome pode sucumbir envenenado por comida química;
e que é perigoso respirar, porque nas cidades o ar puro é, como o silêncio, um artigo de luxo;
 e que também é perigoso nascer, porque a cada três segundos morre uma criança que não chegou viva aos cinco anos de idade.

(Eduardo Galeano em "O Filho dos Dias")

quinta-feira, abril 27, 2017

Happy Claudine Auger !

A francesa Claudine Auger (nascida como Claudine Oger; Paris, 26 /04/1941)  foi Miss França em 1958, se tornou conhecida mundialmente pelo papel de "Domino Derval" no filme 007 contra a Chantagem Atômica. O sucesso do filme lançou Auger numa carreira intensa no cinema europeu inclusive filmes de baixo orçamento como La Tarantola dal ventre nero. Trabalhou com atores como Jean Marais, Alain Delon, Jean-Paul Belmondo e Michel Serrault e foi uma das pin-ups que mais ilustrou capas de revistas de entretenimento na década de 1970.
Claudine Auger and Sean Connery . Thunderball