Fico feliz em descobrir gente e gente a me descobrir. Aos editores de jornais, revistas e livros, fica aqui a dica:
http://www.alexandregaioto.blogspot.com/
O texto está no blog do Alexandre Gaioto. Ele se apresenta assim: "um canalha cada vez mais chato, mais velho e mais gordo. Acadêmico dos cursos de Letras (UEM) e Jornalismo (CESUMAR). Apresentador do Programa Garagem, veiculado na Rádio Universitária Cesumar 94,3 FM".
Um conto para Lindalva
Lindalva fede perfume barato. Quando chove, muda a fragrância. São dois desodorantes. Fecha a porta do armário, já com os pés na sandália de cor indefinível, e escolhe a blusa branca, que coloca debaixo do macacão azul, decotado nas laterais, por onde as gordas veias projetam, sobre a barriga macilenta, inovadores projetos arquitetônicos que se cruzam e viram cidades com Banco do Brasil, Avenida Santos Dumont, barracos e restaurantes.
Sentada, Lindalva é ainda mais repugnante a roçar barriga e nuca, com os dedos meticulosamente banhados num esmalte vagabundo. O motorista olha, ela teme nunca ter sido bela. Tranqüiliza-se; os furtivos olhares pelo retrovisor do Ademar.
Apenas quatro paixões e uma sala, que apelidou casa. Nunca casou. Trouxe Júlio para morar junto; Júlio fugiu. Prometeu liberdade a Francisco; e Francisco cobrou. Deu pinga e revólver de ano novo para José, que partiu sem adeus e com dinheiro. Nem mesmo quando João prometeu casar, na Igreja, com Jesus; mês antes, bala perdida.
Lindalva sorria para a vida. Tentou suicídio, mas não conseguiu. “Foi Deus”. Virou evangélica. Crente. Católica. Adventista. A fé durava-lhe a semana, quando, revoltada, acompanhava os gastos da paróquia para o conserto do automóvel do bispo e das luzes do altar. O amor nunca lhe foi generoso.
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