Para o pessoal que tem saudades da coluna dominical de Elvio Rocha em O Diário. O nome era 'Desvio de Coluna'. Quem batizou foi a Dayse Hess, se não me engano. Aqui, Elvio fala um pouco de seus grandes amigos: Dorva e Júnior. Todos estão agora morando em Rio Claro, SP.
O admirável mundo cão
Dorva (lina) e Júnior, meus cães, estão vivendo um momento único em suas vidas. Tornaram-se adultos, sentem o peso da responsabilidade, e, às vezes, dão mostras de que estão perdendo a naturalidade, a espontaneidade de quando eram crianças, adolescentes.
Como educador caseiro, recorro a todos os recursos disponíveis para mostrar-lhes que não fico muito feliz com essa maturidade.
Dorva, por exemplo, já reluta em rasgar pontas de fronhas e a utilizar seu talento plástico para imprimir formas vazadas nos lençóis e cobertores, hobby que ela parecia amar há não faz tanto tempo. Ela, contudo, ainda nos acorda com gentis dentadas nos braços, ao mesmo tempo em que sua cauda tamborila ritmados pagodes.
Júnior parece ter amadurecido mais precocemente. Deixou de lado as correrias bobas, sem destino, que costumava protagonizar no quintal, utilizando alguns dos móveis como obstáculos para suas provas de salto com barreiras. Ele, porém, ainda junta uma trouxinha de pano (tapetes, camisetas, meias etc) com as patas, ajeita na boca e se põe a mamar, enquanto o sono chega manso. Freud explicava isso.
Parei de ler Freud e Reich, porque na hora do sexo não há teoria que dê jeito. Informação demais na cama é bobagem, já que ainda há muitas Ulas e Brucutus na ativa.
O fato é que essas crianças de quatro patas me poupam de muitos dissabores, contribuem para evitar infartos, divertem, não deixam a peteca cair. Dois amigos fiéis, sempre presentes, generosos.
Um amigo humano me diz que cães vêem seus donos como deuses.Tratam-nos, é verdade, como ídolos. E, se temos sangue bom, certamente cuidamos de retornar e devolver a eles essa amizade feita de olhares, de pequenos agrados, de muita e silenciosa cumplicidade.
São substancialmente diferentes na personalidade. Dorva estaria mais próxima de uma Pomba-Gira. Júnior lembra um gourmet francês, genuíno, embora faça xixi nos pés dos sofás e fique girando feito um carrossel de parque de diversões quando precisa defecar.
Olho para ambos e passo a entender a razão de muitos eleitores, nas últimas décadas, terem escolhido votar em animais para os principais cargos públicos do País. Na história eleitoral brasileira, rinocerontes, bodes, macacos e tantos outros bichos receberam sufrágios suficientes para serem eleitos. Então, parlamentarismo já! Dorva primeira-ministra e Júnior titular do Ministério das Relações Animais.
Elvio Rocha
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