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sábado, maio 10, 2025

Quando o Homem Vira Lobisomem

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Licantropia à Brasileira: Revista dos anos 1980 explorou casos de “lobisomens” no Brasil e no mundo


Reportagem da Revista Planeta investigou fenômenos sobrenaturais misturando folclore, história e parapsicologia



Na década de 1980, a Revista Planeta publicou uma reportagem instigante sobre supostos casos de licantropia — a transformação de humanos em lobos — ocorridos no Brasil e em outras partes do mundo. Assinada pela pesquisadora Elsie Dubugras, a matéria mergulha em um universo onde lendas medievais, relatos históricos e fenômenos parapsicológicos se entrelaçam, revelando como o mito do lobisomem se manifesta em diferentes culturas.

Baseada em arquivos do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), a reportagem apresenta uma série de casos documentados entre o século XVI e o século XX, combinando dados históricos, crenças populares e interpretações sobrenaturais. Abaixo, os principais relatos que chamaram a atenção dos leitores na época.

O Lobisomem do Nordeste (1969)

Em um vilarejo nordestino, um casal zelador de igreja teria abrigado frades itinerantes. Após um desentendimento entre um dos filhos e os religiosos, estranhos eventos começaram a ocorrer. Dias depois, a mãe da família faleceu e foi enterrada. Gritos animalescos passaram a ser ouvidos no cemitério, e o túmulo apareceu rachado. Ao ser reaberta, a cova continha um animal quadrúpede peludo no lugar do cadáver.

A hipótese de um tatu foi descartada pelo tamanho do ser e pelo contexto misterioso. A reportagem sugere que a suposta “maldição” pode ter sido desencadeada pela agressão aos frades.

Gilles Garnier: O Lobisomem da França (1573)

Em um dos casos históricos mais famosos, Gilles Garnier confessou ser um lobisomem e foi executado na fogueira após ser acusado de assassinar várias crianças. Relatos da época descrevem-no como um homem coberto de pelos e com garras. A reportagem interpreta o caso à luz da psiquiatria, apontando que Garnier poderia sofrer de licantropia clínica — um raro transtorno em que o paciente acredita ser um animal selvagem.

Natalia Filipovna: A Dama-Lobo da Rússia (1925)

Durante uma sessão de adivinhação, uma aristocrata russa teria entrado em transe e agredido violentamente os amigos com comportamento considerado "lupino". Após o surto, relatou ter sentido como se estivesse “correndo como um lobo”. Para os pesquisadores do IBPP, o episódio poderia ser um caso de projeção astral em que o “corpo etérico” assume uma forma animal.

O Caso Paulista (Anos 1970)

Um fazendeiro do interior de São Paulo acordou durante a madrugada com ruídos no galinheiro. Ao verificar, teria disparado contra um animal estranho. No amanhecer, encontrou o corpo de um homem baleado no mesmo local. A interpretação dada na reportagem envolve possíveis alucinações coletivas ou metamorfose espontânea, fenômeno popular no imaginário sobrenatural.

Entre a Ciência e o Sobrenatural

A reportagem também explora possíveis explicações para os fenômenos observados. Entre elas, a licantropia clínica, citada desde os tempos de Galeno, no século II, é apresentada como uma explicação médica. Já o IBPP propõe uma visão esotérica, na qual um “corpo etérico” pode se descolar do físico e assumir formas animais, conceito relacionado ao “cordão de prata”.

Além disso, a matéria destaca como o mito do lobisomem é universal. Do Homem-Tigre da Índia ao Deus-Lobo Odin da mitologia nórdica, passando pelos lobisomens portugueses que “choram como crianças”, há um repertório simbólico que transcende fronteiras.

Análise Crítica

A abordagem da Revista Planeta é descrita como sensacionalista, mas fundamentada em pesquisa histórica e relatos documentais. A mistura de elementos do folclore — como receitas para virar lobisomem — com investigações parapsicológicas dá à reportagem um tom entre o fantástico e o investigativo.

Contudo, a matéria peca pela falta de provas materiais, principalmente nos casos brasileiros, e por vezes confunde aspectos da psicopatologia com fenômenos sobrenaturais.

Um Documento Cultural

Mais do que apenas entreter, a reportagem reflete o espírito da época, marcado pelo fascínio com o inexplicável. Em tempos pré-internet, em que revistas como Planeta circulavam com grande influência, temas como licantropia, vida após a morte e projeção astral tinham espaço nas bancas e na curiosidade do público.

O conteúdo dialoga com produções como o programa norte-americano In Search Of… e obras como Man Into Wolf, de Robert Eisler, reforçando como os limites entre mito, ciência e psicologia seguem sendo explorados até hoje.

Trechos da Matéria Original

“O povo não tinha dúvida: era caso de lobisomem. Por que tanta cerimônia para caçar um tatu?”

“Natalia, com os olhos arregalados, pulou na amiga como um lobo... mas não lembrava de nada ao acordar.”

“Gilles Garnier queimado vivo em 1573 é tanto um assassino quanto um sintoma do medo coletivo.”


P.S.: A matéria antecipa debates atuais sobre cryptozoologia, distúrbios raros como a hipertricose (ou “síndrome do lobisomem”), e a tênue linha entre ciência, mito e cultura popular.

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