"Arieta, abre a porta pra Buarque entrar" — é o que Chico e Marieta ouvem de manhã quando Silvia, de dois anos e três meses, acorda e pede passeio. A menina é excepcionalmente adiantada para a idade que tem, mas Chico Buarque e Marieta nem notaram — eles não estão fazendo cobranças nem preocupados com isto. Acham muito engraçado o humor da filha, que, quando dá na telha, não chama "mãe" ou "pai", usa os nomes mesmo.
Aliás, não há preocupação naquela casa com educação ou psicologias. Os pais amam tanto as meninas, e como têm a possibilidade de ficar muitas horas com elas, vivem batendo papo e acompanhando seus interesses. Helena, a menor, está com sete meses, é enorme e deixa Silvia enciumada — tanto que esta não perde oportunidade de dar uns tapinhas na irmã. A estratégia dos pais é dar atenção e não recriminar. E Silvia, que ora se chama de Pipa, ora de Silvia mesmo, põe o dedo na boca da irmã e diz: "Ela gosta muito de mim!"
Quase o dia todo os pais estão conversando com Silvia: contam histórias que vão inventando na hora, tudo de acordo com o entendimento dela, sem essa de bem e mal, crimes e castigos. Como estão muito voltados para a criança, vão sentindo os reais interesses e satisfazendo suas curiosidades. Chico ensina muita música, que ela aprende com letra e tudo. Sabe cantar boa parte de A Banda, mas Silvia se liga mesmo é em dançar.
Para que a menina não fique só entre adultos, já está indo ao colégio, convivendo com outras crianças, algumas mais velhas e que só na escola estão aprendendo o que Silvia já sabia: noção de proporção, de cor. Isso tudo ela aprendeu no papo: "Entrando na sala, Chico diz: 'Que lindo o desenho da mamãe é maior que o do papai, viu? Porque Silvia é pequena ainda.'"
Tudo isto a desenvolveu tanto, que Silvia, aos dois anos, já consegue, fazendo, claro, uma enorme bagunça, tem um ótimo vocabulário em português e entende tudo que a babá italiana diz. No começo, ela falava as duas línguas, agora prefere o português. E para quem acha que tanta atenção estraga criança, Marieta conta que Silvia é muito obediente, nunca quebrou nada dos objetos da casa, não faz manha quando os pais saem, nem pede além do que necessita. Por isto tudo, Marieta não está trabalhando — quer acompanhar os primeiros anos das meninas. Chico passa muito tempo com elas, mas quando quer compor, se tranca e ninguém o interrompe. Ele é um pai muito atencioso, mas nada jeitoso. Bem que tentou dar mamadeira, mudar fraldinhas, e até é bom, mas o resultado tem tanto de improviso que Marieta ri à toa.
SÍLVIA E HELENA ESTÃO ESSAS MÃOS
Algumas vezes Marieta enfrenta os ciúmes de Silvia.
Silvia e Helena são as maiores preocupações de Marieta e Chico Buarque de Holanda. As filhas do casal estão crescendo, e a cada dia os problemas aumentam. Ora é Silvia enciumada com uma aparente maior dedicação à caçula Helena, ora é a caçula que quebra alguma coisa. Mas a família Buarque de Holanda vai muito bem, com o patriarca Chico compondo e fazendo shows a valer, enquanto Marieta trata dos vários problemas caseiros.
Com Silvia nos braços, Chico é um pai feliz. Tem composto como nunca: Rosa dos Ventos e Menino Jesus, suas duas últimas composições, são um sucesso popular. Silvia já vai ao colégio e brinca com meninas de sua idade. Com apenas dois anos, ela já percebe coisas pouco comuns às crianças de sua idade.
Reportagem de Gardenia Garcia
Fotos de Roberto Vigoderis
As reportagens retratam o cotidiano de Chico Buarque e Marieta em 1971, destacando a relação do casal com as filhas Silvia (2 anos) e Helena (7 meses). O texto revela a educação descontraída e afetuosa da família, o talento precoce de Silvia e o equilíbrio entre a vida artística de Chico e a dedicação aos filhos.
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