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segunda-feira, maio 05, 2025

Augusto dos Anjos

 Augusto dos Anjos (1884-1914), o poeta singular do pessimismo científico e da decomposição da matéria, cuja obra única se destaca no panorama literário brasileiro



Vozes da Morte

Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,

Tamarindo de minha desventura,

Tu, com o envelhecimento da nervura

Eu, com o envelhecimento dos tecidos!


Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!

E a podridão, meu velho! E essa futura

Ultrafatalidade de ossatura,

A que nos acharemos reduzidos!


Não morrerão, porém tuas sementes!

E assim, para o Futuro, em diferentes

Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,


Na multiplicidade dos teus ramos,

Pelo muito que em vida nos amamos,

Depois da morte, inda teremos filhos!


Pau d'Arco, maio, 1907



Publicado no livro Eu (1912).

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