Transcrição do Jornal do Brasil – 18/06/1985
MENOR: Um instrumento a serviço do Poder
Por Elizabeth Orrini
O livro "O Menor e a Leitura de Segurança", de Emblem Veiga, será lançado na segunda-feira (dia 24), às 21h, no Bel Barbero, em Bozinho.
A visão da Fundem sobre o menor
Luiz Cronieri, pedagogo e técnico da Fundem, afirma que, com a revolução, o menor passou a ser encarado como "questão de segurança nacional". A Fundação Brasileira, por meio de seu presidente, Mário Alucinórdia, culpa a família pelo processo de marginalização:
"O problema do menor no Brasil está na desorganização familiar... A grande confiança, se não há estrutura familiar, separa seus membros, facilita a marginalização."
Mortalidade e comportamento
O contexto de "mortalidade" é entendido como parte do "comportamento normal" do desenvolvimento. Essa visão leva a duas consequências:
Normalização da marginalidade: Se a violência é tratada como "normal", a própria Fundem acaba reproduzindo-a.
Divisão entre "querenos" e "enjimeiros": Classificação dos menores em categorias, reforçando estigmas.
Críticas à Fundação
Lust Cavalieri aponta contradições:
A Fundem, responsável por políticas nacionais, enfrenta conflitos entre prioridades públicas e interesses paroquiais.
O número de menores carentes cresce a cada ano, e a instituição não consegue resolver o problema.
O menor como instrumento do Estado
Segundo o estudo, a Fundem e a Escola Superior de Guerra (ESG) tratam o menor como "tema de segurança nacional", não como questão social. Após 1984, o regime usou a Fundação como aparato ideológico, com:
Centro de Desenvolvimento de Recursos: Repasse de ideologia às fundações estaduais.
Assessoria de comunicação: Controle da narrativa pública.
Comparação com regimes autoritários
Márcio Moreira Alves, analisando documentos internos, compara a Fundem a instituições da era Hitler:
"Em períodos de fortalecimento do Estado, surge o discurso de 'proteção à infância' – mas apenas como controle social."
Conclusão: A Fundem não protege o menor, mas o molda conforme os interesses do poder, transformando-o em objeto de dominação.
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