NOTURNO DA MOSELA
Manuel Bandeira
A noite... O silêncio...
Se fosse só o silêncio!
Mas esta queda d´água que não pára! que não pára!
Não é de dentro de mim que ela flui sem piedade? ...
A minha vida foge, foge __ e sinto que foge inutilmente!
O silêncio e a estrada ensapada, com dois reflexos intermináveis...
Fumo até quase não sentir mais que a brasa e a cinza em minha boca.
O fumo faz mal aos meus pulmões comidos pelas algas.
O fumo é amargo e abjeto. Fumo abençoado, que és amargo e abjeto!
Uma pequenina aranha urde no peitoril da janela e a teiazinha levíssima.
Tenho vontade de beijar esta aranhazinha...
No entanto em cada charuto que acendo cuido encontrar o gosto que faz esquecer...
Os meus retratos... Os meus livros... O meu crucifixo de marfim...
E a noite...
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