SÉTIMO CÉU - N 267 - JULHO 1978
Revista Sétimo Céu - Edição N° 267 - Julho 1978
Reportagem: Ilvaneri Penteado | Fotos: João Poppe
Há dois anos, Chico Buarque não faz shows e, se puder, não pretende mais voltar aos palcos. Afinal, não é isso que ele espera de sua carreira. Ele confessa que nunca teve jeito para fazer shows e agora vai poder se dedicar a fazer só o que gosta: compor músicas e escrever peças.
Um dia comum na Gávea
Sentado à cabeceira da mesa de sua sala de jantar, Chico Buarque é a imagem do chefe de família comum. Nada em sua atitude, gestos ou roupas revela o ídolo. Na maior serenidade, conversa com seu convidado para o almoço sobre negócios, tendo ao seu lado Marieta Severo e a filha Silvia, de nove anos. As menores — Helena, de sete, e Luísa, de três anos — brincam pela casa.
O acúmulo de serviços e solicitações (música para terminar, lançamento de um livro e disco sobre uma peça sua, músicas para o próximo LP etc.) não o perturbam, aparentemente. Chico toma café, brinca com a filha, defende o Fluminense, com o bom humor de quem está de férias.
O refúgio criativo
No segundo andar está seu estúdio, onde escreve, compõe e trabalha com parceiros. A diversão também marca presença: na sala ao lado, mesas de sinuca e futebol de botão. No quintal, sua velha paixão: um pequeno campo de futebol. Para completar, o jardim e a vista verde do alto da Gávea — o resultado de anos de trabalho, onde os shows foram uma constante.
Adeus aos palcos
"Há dois anos não faço shows, pelo menos profissionalmente. Não gosto, e não é por timidez. É que não me sinto bem, não tenho jeito. Fiz dez anos de shows e ponte-aérea para sobreviver. Na verdade, eu tinha que escolher. Não podia fazer shows se escrevesse uma peça, por exemplo. Já gravar é diferente, eu gosto."
Prioridade: a arte
Ele acaba de concluir a peça Ópera do Malandro, adaptação da Ópera do Mendigo (escrita em 1728 pelo poeta inglês John Gay). A obra consumiu tanto tempo que atrasou seu próximo LP — a peça terá 17 músicas inéditas (chorinho, valsinha, samba, tango etc.). A solução? Algumas músicas novas ("Feijoada Completa"), outras já gravadas ("Maravilha"), e assim nasce um novo sucesso.
No cenário doméstico da Gávea, Chico Buarque renasce como compositor e dramaturgo — longe das luzes que nunca desejou.
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