Cruz e Sousa (1861-1898), o "Cisne Negro" do simbolismo brasileiro, cuja obra mergulha em temas como transcendência, dor e abolição:
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Mural Cisne Negro, com o rosto do poeta Cruz e Sousa, é inaugurado em Florianópolis
"Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras..."
(Primeira estrofe do poema que abre Missal e sintetiza sua estética)
A obsessão pelo branco (cor da pureza, mas também da exclusão racial) reflete o paradoxo do poeta — negro em uma sociedade pós-escravocrata, buscando sublimar a dor em beleza etérea.
Trecho de "Emparedado" - O Grito Social:
"Ser poeta, ser negro e ser escravo
Ao mesmo tempo, na mesma algema,
Ah! quem poderá, sem quebrar a gema,
Sentir o que vai na minh'alma brava?"
Filho de escravizados alforriados, Cruz e Sousa enfrentou o racismo mesmo após a Abolição (1888). Este poema raro (de tom mais realista) explicita sua luta dupla: contra o preconceito e pela arte pura.
Sinestesia: Uso de cores, sons e aromas como em "Violões que choram..."/"Cítaras suspirantes..." ("Evocações").
Misticismo: Referências a anjos, crisálidas e alquimia ("Tome, Senhor, meu corpo de diamante").
Ironia Trágica: O poeta que canta a brancura ("Ó alvas virgens!") era chamado de "negro sujo" na imprensa da época.
Trecho Póstumo (Morte e Libertação):
"Vamos, coração, vamos de mãos dadas
Pelas estrelas e pelas estradas...
Para a Luz, para a Glória, para a Vida!"
(Último poema escrito em 1898, no leito de morte por tuberculose)
Seus dois livros principais (Missal e Broquéis) foram publicados em 1893, ano da Revolta da Armada.
Morreu pobre aos 36 anos, enquanto Machado de Assis (seu admirador) tentava angariar fundos para seu tratamento.
Hoje dá nome à maior condecoração literária de Santa Catarina, seu estado natal.

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