Lisboa, onde o mar canta as canções que o vento leva para longe
À Sereia, encantadora das águas e sedutora das almas perdidas,
Escrevo-te com a fascinação de quem se deixa envolver por um mistério profundo, que não se pode ver claramente, mas apenas sentir em cada onda que quebra contra a rocha. Tu, que habitas as águas, sendo parte do mar e, ao mesmo tempo, parte do encantamento, és a metáfora daquilo que todos buscamos, mas que, ao tocarmos, nos escapa. A tua beleza não é apenas uma forma, mas uma promessa.
Pergunto-te: ao cantar tua melodia para aqueles que passam perto de ti, é a solidão que te move, ou o desejo de ser vista, de ser entendida? Pois, embora tu cantes com a voz do oceano, não deixas de ser uma alma sozinha, desejando talvez alguém que ouça a canção até o fim, sem ser consumido por ela. A tua música, tão doce quanto o perigo, é o reflexo de um amor inatingível, um amor que só pode existir no espaço entre a busca e o impossível.
Tu, sereia, és ao mesmo tempo uma maravilha e uma advertência. Pois, aqueles que se aproximam de ti, desejando tomar para si o que é belo, acabam por se perder em teu canto. E, talvez, essa seja a verdadeira tragédia: a busca por algo perfeito, mas que leva à destruição de quem o deseja. Não é a tua malícia, mas a natureza do que ofereces: o encantamento de um sonho que nunca pode ser vivido.
No entanto, vejo algo profundo em tua existência. Talvez, a verdadeira essência da sereia não seja a sedução, mas a expressão do nosso desejo mais humano: o desejo de encontrar algo que transcenda a vida comum, algo que nos faça sentir vivos, ainda que esse algo nos arraste para a morte. Talvez, a tua canção seja o eco daquilo que nunca podemos possuir, mas que, ao mesmo tempo, nos chama para seguir adiante, para buscar algo maior.
Se pudesse te dar um conselho, diria: canta não apenas para atrair, mas para te libertar, pois só ao aceitar a imperfeição daquilo que desejamos, é que podemos realmente viver. Não te escondas nas águas profundas, mas emerge para ver o que há além do horizonte. Pois, a verdadeira beleza não está no canto que nos seduz, mas naquilo que encontramos quando paramos de buscar apenas a perfeição.
Com respeito e reflexão,
Fernando Pessoa (Via IA)
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