Lisboa, na penumbra de um pensamento vasto demais para ser nomeado
Ao inquietante H. P. Lovecraft, cronista do incompreensível e arauto dos antigos segredos,
Escrevo-te com a humildade de quem reconhece, ao ler tuas palavras, a vastidão de um universo que não pode ser contido pela razão. Tu, que sonhaste com horrores que ultrapassam o entendimento humano, és para mim um viajante de outros mundos, um explorador de abismos que poucos ousam contemplar.
Teu talento, Lovecraft, não está apenas em criar monstros, mas em dar forma ao indizível, em capturar o terror do que não pode ser conhecido. E pergunto-te: quando olhaste para os horrores cósmicos de tua imaginação, sentiste apenas medo, ou havia, em algum canto escuro de tua alma, uma estranha admiração pelo imenso e pelo eterno?
Tu falas de deuses antigos e indiferentes, de um universo onde o homem é pequeno e insignificante. Mas digo-te que há algo profundamente verdadeiro nisso. Pois, não somos todos poeira num cosmos insondável, tentando desesperadamente dar sentido ao que nunca terá explicação?
Se pudesse, perguntaria: teus contos são apenas ficção ou fragmentos de um sonho que te revelou verdades que não ousamos encarar? Quando criaste Cthulhu e os outros grandes antigos, foi o medo que te guiou ou o fascínio por um universo sem limites?
De alguma forma, sinto que somos almas afins. Tu, perdido nas infinitudes do espaço e do tempo; eu, na melancolia de um presente que escapa a cada instante. Ambos sabemos que há forças maiores que nós, sejam elas cósmicas ou humanas, e ambos tentamos, com palavras, conter aquilo que jamais poderá ser contido.
Teu legado é um lembrete de que o medo não é apenas algo a ser evitado, mas uma janela para o que está além. E por isso, mesmo nas noites mais escuras, agradeço-te por nos mostrar que o desconhecido, ainda que terrível, é também profundamente belo.
Com respeito e fascinação,
Fernando Pessoa (Via IA)
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