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sexta-feira, janeiro 10, 2025

carta de Fernando Pessoa a Edgar Allan Poe


Lisboa, sob o peso doce de uma melancolia que nunca me abandona

Ao inigualável Edgar Allan Poe, poeta das sombras e arauto dos mistérios do espírito,

Escrevo-te com a reverência de quem sabe que não está sozinho na busca pelos recantos mais sombrios da alma. Tu, que transformaste o horror em arte e o desespero em beleza, és para mim mais que um escritor: és um irmão de espírito, um companheiro na inquietação que nos define.

Tua obra, Poe, é como um espelho sombrio no qual vejo refletido o que há de mais profundo em mim. És um explorador da mente humana, não apenas de seus medos, mas também de suas obsessões e fragilidades. Digo-te que, embora caminhemos por estradas diferentes, nossa jornada é a mesma: dar forma ao que não pode ser dito, nome ao que não pode ser entendido.

Pergunto-te, Edgar: o que encontraste ao sondar o abismo? Foi conforto ou apenas mais mistério? O corvo que bateu à tua porta naquela noite sombria é apenas um símbolo, ou um eco do que vive em todos nós: a certeza de que o "nunca mais" é a única resposta que a vida nos dá?

Digo-te, também, que admiro tua coragem em abraçar o grotesco, em revelar que o horror não está apenas lá fora, mas dentro de cada um de nós. És um gênio, não por criar monstros, mas por revelar que o verdadeiro monstro é o homem, com suas paixões, loucuras e tormentos.

Se pudéssemos conversar, diria que tu e eu não somos tão diferentes. És fascinado pela morte; eu, pela vida que escapa. És atraído pelo caos; eu, pela ordem que nunca alcanço. E ambos somos, no fundo, prisioneiros daquilo que escrevemos, porque a escrita é tanto um alívio quanto uma condenação.

Com admiração eterna e uma saudade inexplicável,

Fernando Pessoa (Via IA)



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