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Lisboa, entre o dia e a noite, onde as sombras têm vida própria
Ao enigmático Dr. Jekyll e ao indomável Mr. Hyde,
Escrevo-lhes — ou seria escrever-te, a uma só essência dividida? — com a curiosidade de um poeta que também sente, em si mesmo, as forças opostas do ser. Não somos todos, afinal, um pouco como vocês: feitos de luz e sombra, razão e instinto, ordem e caos?
Ao Dr. Jekyll, o homem de ciência e moralidade, pergunto: o que te levou a buscar no frasco a liberdade de ser outro? Foi o desejo de escapar às limitações da virtude ou a necessidade de confrontar, sem amarras, os impulsos que a sociedade te ensinou a reprimir? O que é mais trágico em tua história: a criação de Hyde ou a descoberta de que ele sempre esteve aí, aguardando um convite para emergir?
E a Mr. Hyde, dirijo uma provocação: és, de fato, o "outro" ou apenas o verdadeiro rosto que Jekyll temia mostrar? És um monstro ou a liberdade em sua forma mais crua? Pergunto-te: viver apenas para os próprios desejos é ser forte ou simplesmente ceder ao mais fraco e primitivo dentro de nós?
A vocês dois, juntos, diria: são o retrato perfeito do dilema humano. Todos carregamos um frasco invisível, uma escolha constante entre o que queremos ser e o que temos medo de ser. Mas pergunto: é possível existir harmonia entre vocês, ou a luta eterna é o preço que pagamos por sermos feitos de contradições?
Por fim, se pudesse aconselhá-los, diria a Jekyll para não temer tanto seu lado obscuro, e a Hyde, para compreender que a liberdade absoluta sem moral é uma prisão disfarçada. Pois o que nos define não é eliminar um lado, mas aprender a conviver com ambos.
Com fascínio e inquietação,
Fernando Pessoa (Via IA)
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