Lisboa, onde a arquitetura das almas se sobrepõe às construções das cidades
Ao Corcunda de Notre-Dame, aquele que habita a catedral mais do que a cidade,
Escrevo-te com a curiosidade de quem se vê refletido nas formas distorcidas e nas sombras que projetam nossos medos e desejos. Tu, que carregas o peso do corpo deformado e da alma incompreendida, és, ao mesmo tempo, símbolo da mais pura tragédia e da mais nobre das virtudes. Pois, mesmo na solidão do teu refúgio, ao lado das pedras da catedral, reside uma humanidade maior do que a de muitos que te desprezam.
Quasimodo, a tua dor é a dor do ser humano que, ao ser rejeitado pelo mundo, busca refúgio naquilo que é mais eterno: a arte, a beleza, a grandeza do que é intangível. Pergunto-te: ao tocar os sinos de Notre-Dame, ao ecoar as melodias de um templo erguido por mãos humanas, sentes que tua existência adquire algum sentido, ou apenas oscilas entre o desejo de ser visto e o medo de ser compreendido?
Tu, que foste moldado pela sociedade em uma figura monstruosa, mas que, na verdade, és um espelho das suas próprias falhas, mostras-nos que o que realmente importa não é a aparência, mas a capacidade de amar e de ser fiel a um ideal mais profundo. E, ao amar Esmeralda com uma devoção incondicional, revelas que, por mais que o mundo tente te definir pela forma, o que verdadeiramente te define é a grandeza do coração.
Pergunto: seria a tua deformidade a verdadeira maldição ou, ao contrário, o que te preserva do vazio das convenções? Pois, ao longo da tua história, o que vejo é um homem que, mesmo sendo rotulado como monstro, tem o privilégio de ver o mundo com olhos que buscam a alma, e não apenas as superfícies.
Quasimodo, não é a aparência que nos faz humanos, mas o que fazemos com o amor e a dor que carregamos dentro de nós. E, mesmo que te percas nas sombras da catedral, há algo luminoso em tua luta: a busca por um sentido que transcende as limitações de um corpo falho.
Se pudesse te dar um conselho, diria: não permita que o mundo te defina. Pois, se há algo que a catedral e o som de seus sinos nos ensinam, é que a verdadeira grandeza não está nas pedras, mas nos corações que são capazes de amar sem esperar nada em troca.
Com respeito e profunda admiração,
Fernando Pessoa (via IA)
The Hunchback of Notre Dame (1923) |
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