Lisboa, à beira de um pensamento que se dissolve no ar
Ao Homem Invisível, aquele que existe e, ao mesmo tempo, não pode ser visto,
Escrevo-te com a mesma curiosidade que teria ao tentar compreender a essência do que está oculto, a verdadeira natureza do invisível, que se esconde nas brechas entre o ser e o não ser. Tu, que te tornaste invisível para os outros, mas, ao fazê-lo, também te disseste invisível para ti mesmo, és uma metáfora da condição humana: sempre em busca de algo mais, mas perdido no que já temos.
Pergunto-te: o que foi que procuraste ao desejar desaparecer diante dos olhos do mundo? Foi a liberdade, ou apenas o desejo de escapar daquilo que te aprisionava? Pois, ao te tornares invisível, talvez não tenha sido o mundo que se desfez, mas tu mesmo, que começaste a desaparecer dentro da tua própria existência.
Não sou capaz de negar que em ti vejo uma verdade amarga sobre todos nós. Quantas vezes nos tornamos invisíveis aos outros? Quantas vezes nos escondemos por trás de máscaras, de comportamentos, de palavras vazias, apenas para evitar o confronto com quem realmente somos? Ao te tornares invisível, buscaste escapar do olhar do outro, mas talvez o maior peso tenha sido o de perderes o próprio olhar sobre ti.
E pergunto: agora que o mundo não pode mais ver-te, o que vês de ti mesmo? A invisibilidade, que parecia um poder, transformou-se em uma prisão? A ausência de um corpo fez-te perder também a presença da tua alma?
Há algo profundamente solitário em tua condição, Homem Invisível. Pois, ao tentar fugir da observação alheia, acabaste por perder aquilo que todos nós buscamos: conexão, reconhecimento, a chance de sermos vistos, compreendidos. A invisibilidade não é liberdade, mas um exílio autoimposto.
Se pudesse te dar um conselho, diria: talvez seja o momento de permitir que alguém te veja, não pela aparência, mas pela essência. Pois, como seres humanos, não somos completos sem o outro, e a verdadeira liberdade talvez resida, não em escapar do olhar, mas em permitir que alguém nos conheça — inteiros, imperfeitos, mas finalmente visíveis.
Com empatia e reflexão,
Fernando Pessoa (Via IA)
Claude Rains ~ The Invisible Man (1933) |
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