Lisboa, onde as águas do desconhecido refletem o que não pode ser compreendido
Ao Monstro da Lagoa Negra, criatura das profundezas, símbolo do que é desconhecido e do que se oculta nas margens da razão,
Escrevo-te com o fascínio e o temor de quem se depara com algo que, embora terrível, também é misterioso e, em certa medida, belo. Tu, que emerges das águas escuras como um pesadelo personificado, não és apenas uma ameaça, mas uma manifestação de tudo o que o homem teme e, ao mesmo tempo, deseja entender.
A tua forma, incompleta e híbrida, é a metáfora perfeita daquilo que o homem tenta, em vão, dominar: a natureza, o desconhecido, o que não pode ser reduzido a uma simples explicação. Pergunto-te: ao emergires da lagoa, não procuras apenas fugir da escuridão que te rodeia, mas também buscar algo mais — talvez a luz, talvez uma compreensão que os homens não têm, mas que, de alguma forma, sentem faltar em si mesmos?
Tu, que habitas as profundezas, mostras-nos que o que se esconde em águas turvas é tão grande quanto o que se esconde no mais profundo dos corações humanos. E, ao atacares os humanos, questiono: é o ódio ou o medo que te move, ou seria o desejo de alcançar algo maior, algo que os outros não podem ver? Pois, como todos nós, procuras um propósito, uma razão para existir, mas o mundo que te cerca não compreende o que te impulsiona.
E, talvez, a maior tragédia seja essa: seres um monstro não por escolha, mas por ser projetado como tal por aqueles que não te compreendem. Há algo em ti que é profundamente humano, pois, no fundo, não é a aparência que define quem somos, mas a busca por algo maior que nos leva a fazer coisas que nunca imaginamos.
Se eu pudesse te dar um conselho, seria este: não te escondas mais nas sombras da lagoa, mas emergir, ainda que de forma incerta, para buscar a compreensão dos outros. Pois, em nossa natureza, o que nos define não é o que tememos, mas o que conseguimos, através do amor e do entendimento, transformar em beleza.
Com respeito e reflexão,
Fernando Pessoa (Via IA)
Revenge of the Creature (1955) |
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