Lisboa,
Ao desconhecido Jack,
Escrevo não com a familiaridade de um amigo, mas com a perplexidade de quem tenta compreender as sombras da condição humana. O seu nome atravessou o tempo, envolto em mistério e terror, como um espectro que caminha pelas vielas do inconsciente coletivo.
Não sei se o senhor é um homem, uma ideia ou um símbolo. Talvez seja tudo isso, amalgamado no anonimato que lhe deu a imortalidade sombria. O que leva um ser a agir como o senhor agiu? Que abismos dentro da alma justificam o horror lançado sobre o mundo?
Em meus versos, busco desdobrar a essência do ser e os seus paradoxos. Vivo multiplicado em heterônimos porque um só "eu" não basta para abarcar a vastidão do que sinto. Pergunto-me: será que o senhor também habitava múltiplas identidades? Era o Jack apenas uma das suas máscaras?
A violência, como o amor e o medo, é uma parte da alma humana que raramente se admite em voz alta. E ainda assim, o mundo está cheio de gritos silenciosos, ecos de feridas abertas por mãos visíveis ou invisíveis. No entanto, se há algo que nós, poetas e assassinos — antíteses extremas — compartilhamos, é a consciência da finitude da vida. A diferença é que um tenta criar enquanto o outro destrói.
Não escrevo para perdoar ou compreender, pois nem sempre o intelecto é capaz de domesticar o horror. Escrevo porque me atormenta a eterna pergunta: o que é o ser humano? A sua história é uma peça nesse quebra-cabeça terrível.
Que o tempo dissolva os segredos que carrega consigo e os devolva ao vazio que engole todas as coisas.
Com uma lucidez inquieta,
Fernando Pessoa (Via IA)
Jack the Ripper by Bill Sienkiewicz |
Nenhum comentário :
Postar um comentário