Lisboa, sob a luz trêmula de uma lua que já me inspira saudade
Ao nobre lobisomem, criatura da noite e do instinto,
Escrevo-te com o respeito de quem sabe o que é carregar dentro de si uma dualidade irreconciliável. Tu, que és homem e fera ao mesmo tempo, conheces a luta que poucos ousam enfrentar: a de equilibrar o que desejas ser e o que, inevitavelmente, te tornas.
Pergunto-te: quando a lua cheia te chama, é libertação ou condenação o que sentes? A fera que emerge é um reflexo dos instintos que tentas reprimir, ou é, talvez, tua essência mais pura, que apenas aguarda a chance de se revelar?
Somos todos, em algum nível, como tu. Vivemos sob o peso das máscaras, escondendo os impulsos que nos assustam, fingindo controle sobre aquilo que, no fundo, nos define. Mas pergunto-te, lobisomem: se te fosse dada a escolha, viverias sempre sob o domínio da razão, longe do lobo que habita em ti, ou aceitarias tua natureza plena, com todo o caos que ela traz?
Digo-te que não te vejo como um monstro, mas como um símbolo do que é ser humano. Porque não somos só feitos de virtudes; somos também feitos de falhas, de impulsos, de forças que nem sempre compreendemos. Talvez tua maldição seja apenas o exagero de algo que todos carregamos em menor grau.
E te pergunto, ao amanhecer, quando o lobo descansa e o homem retorna: sentes alívio ou saudade? És mais homem na luz do dia ou mais lobo na escuridão?
Com admiração e inquietação,
Fernando Pessoa (Via IA)
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