NOS ACOMPANHE TAMBÉM :

segunda-feira, dezembro 08, 2025

Robert de Niro

 Um domador de personagens que rejeita rótulo de ‘monstro sagrado’



Parceria perfeita com Scorsese e Brian De Palma
Ely Azeredo

(O GLOBO - sexta-feira, 6 de março de 1992.)

Robert De Niro já foi comparado a Marlon Brando, pelo talento, pelo carisma e pelas múltiplas personalidades exibidas na tela. O paralelo, porém, não resiste a maior exame. Com raras exceções (como o Dom Corleone de “O poderoso chefão”), as transformações da figura de Brando acompanharam mutações físicas do ator. E Brando, que popularizou o “símbolismo sexual” ao sair do Actor’s Studio e o empregou para chegar à mitologia de Hollywood, se rendeu ao conceito clássico de “monstro sagrado” no cinema. Numa tentativa de “sagrado”, batalha pela condição de “monstro”. Até as deformações físicas que busca (“O Touro Indomável”, “Os Intocáveis”, “Tempo de despertar”) para melhor expressar a síntese de seus personagens o parecem distinguir de Brando.

“Há várias pessoas dentro dele”, disse Elia Kazan. “Ele se realiza transformando-se em outros.”



Robert De Niro nasceu há 48 anos no bairro de Greenwich Village, Nova York, onde viviam seus pais, pintores, que se separaram quando ele ainda era criança. A mãe queria que ele fosse biólogo. Mas, aos 10 anos, De Niro já tinha a arte na cabeça, a ideia do teatro no coração. Estudou balé, integrou um disputado curso de arte dramática de Stella Adler, e depois passou pelo Actor’s Studio, de onde saíram os mitos Brando, James Dean, Montgomery Clift, Paul Newman, entre outros. Mas seu “star system” parece ter sido recusado. Aceita ter experiência de vida como base de interpretação, e chega à consagração com dois filmes de série “B” de Brian De Palma, ainda em 1968: “The wedding party” e “Hi, Mom!” (os dois filmes com Palma, mas também com De Niro, são “Greetings” (que proporcionou ao diretor um prêmio no Festival de Berlim) e sua continuação, “Hi, Mom!”). Em 1973, com “Caminhos perigosos” (“Mean streets”) — premiado pela crítica de Nova York — tem início sua integração afetiva e profissional com o clã de Martin Scorsese. Consagra-se com o cineasta, e se acredita em muita pesquisa e muito método: para poder mergulhar no mundinho da Little Italy nova-iorquina, ele conversando com delinquentes, observando o comportamento psicológico dos personagens. Quando Coppola o convida para “O poderoso chefão” — parte II — fundando o primeiro “Chefão”, vai à Sicília e aprende o dialeto local. Trabalha como chofer de táxi para viver o papel-título de “Taxi driver” — seu personagem mais antológico, símbolo do sob disfarce do americano.



A convicção de seu trabalho em “O franco-atirador”, em 1978, lhe deu o Oscar. Nesse tempo se conviveu com um drama pessoal: a morte de seu pai, em Ohio, aparentemente com câncer.

Aprendeu a tocar saxofone para fazer o músico de “New York, New York” e usar o play-back e outras técnicas tornassem talvez suportável seu esforço. Sua crise no hospital de “Tempo de despertar” foi elogiada por todos os colegas de elenco e os médicos.

Enfim, um “monstro” também sob outro disfarce. Foi De Niro que leu a autobiografia de Jake La Motta e deu a Scorsese a ideia de “O Touro Indomável”. Sua dedicação ao personagem foi máxima, sua aptidão para revelar as marcas internas dos personagens. Segundo La Motta, “ele devia ser um psiquiatra. Descobriu coisas sobre mim que nem eu mesmo sabia.”

A consagração não conteve a versatilidade e a presença de Robert De Niro. De “Era uma vez na América”, de Sergio Leone, a “O Poderoso chefão – parte II”, passando por “1900” e os “companheiros” (outras parcerias com Scorsese), seu talento foi reconhecido em vários filmes. O gênero sempre acrescentando alguma coisa à sua criação. Agora, De Niro atua como empresário produtor, em seus estúdios próprios — Tribe — em Nova York.

Nenhum comentário :