Petropólis, 20 de Outubro de 1943
Minhas colegas e amigas.
Terei muito prazer se cada uma de vós deixar gravada neste pequeno “Álbum de recordações”, (sua) simpatia e amizade através de uma poesia, de um soneto ou mesmo de uma pequena dedicatória; para que no futuro possamos viver com as recordações do passado, da nossa infância venturosa que os anos apagarão de nossas memórias.
Agradecida
Meu avô, Oscar da Rocha Paes, deixou esse texto:
Dedicatória a ti?
Que poderei desejar-te, minha filha?
Muito, em poucas palavras.
Pouquíssimas palavras, que, sem dúvida, equivalem a muitas:
Que sejas feliz, o que conseguirás, sendo boa filha para teu pai, tua mãe, teus irmãos, enfim, para todos; o que conseguirás avançando os estudos, procurando saber o que é seguir a moral, talvez, invulnerável, baseado em Deus — far-te-á infalível.
É a dedicatória do teu
Pai.
Minha mãe, Martha Rocha Paes Bulgarelli, tinha 14 anos em 1943. Esse texto integra um álbum de recordações escolar, uma prática muito comum entre meninas entre as décadas de 1910 e 1950. Esses álbuns circulavam entre colegas de classe, que deixavam poesias, frases, flores secas, rabiscos e dedicatórias — um rito de afeto, feminilidade, amizade e formação de subjetividade.
A frase central — “para que no futuro possamos viver com as recordações do passado, da nossa infância venturosa” — exprime a consciência precoce da passagem do tempo, da memória e da perda, algo poético e melancólico.


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