Ficha Técnica da Obra
| Elemento | Detalhe |
|---|---|
| Título | Tinha de Ser... |
| Autores | Mário Domingues e Mário Magalhães |
| Gênero | Comédia em 3 atos |
| Estreia | 31 de agosto de 1920, Teatro Trianon (Rio de Janeiro) |
| Companhia | Alexandre de Azevedo |
| Editora | N. Viggiani Editor (Rio de Janeiro, 1920) |
| Preço | Rs. 2$500 (2º milheiro) |
Contexto Histórico
Teatro Trianon: Espaço cultural da elite carioca na Av. Rio Branco, conhecido por peças de alta qualidade. Ele ficava localizado na Avenida Central, que posteriormente se tornou a Avenida Rio Branco. Este teatro foi inaugurado em 1911 e tinha um estilo neoclássico, com uma bela fachada e rica decoração interna. O teatro foi demolido e em seu lugar foi construído o Condomínio Século Frontin.
Pós-Pandemia de 1918: Ressurgimento cultural no Rio, com investimento em teatro autoral brasileiro.
Movimento Nacionalista: Alinhado ao projeto de J. R. Staffa (diretor do Trianon) para fomentar o "Theatro Nacional".
O Mistério da Autoria
A peça chegou anônima ao diretor Alexandre de Azevedo, que descreveu o texto como:
"Um trabalho feito por quem sabe o que é theatro".
Os ensaios começaram antes da revelação dos autores – Mário Domingues (jornalista e crítico teatral) e Mário Magalhães (escritor menos conhecido). O editor destaca:
"Surgindo como espúria, tem a assigná-la dois espíritos brilhantes".
Estrutura da Publicação
1. Prefácio do Editor (N. Viggiani)
Justifica a edição como apoio ao teatro brasileiro:
"Contribuir para o desenvolvimento do Theatro Nacional".
Revela o entusiasmo do elenco durante os ensaios.
Exalta o Trianon como espaço que "figurará em páginas de ouro" da história teatral brasileira.
2. Nota dos Autores
Explicam que a publicação surgiu porque:
"Alexandre Azevedo quis reconhecer nela uma comédia para repertório escolhido".
Agradecem a Nicolino Viggiani por "editar peças do teatro da elite carioca".
Temas e Estilo
Comédia de Costumes: Crítica social disfarçada de humor, típica do teatro brasileiro dos anos 1920.
Linguagem: Mistura de coloquialismos cariocas e diálogos refinados (público-alvo era a elite).
Inovação: Uso de "action" no subtítulo (Comédia em Action) sugere dinamismo cênico incomum para época.
Valor Cultural
Documento de Resistência:
Publicada em 1920, quando o teatro brasileiro lutava contra peças estrangeiras.
Rede de Colaborações:
Revela parcerias entre autores, atores (Azevedo), editores (Viggiani) e empresários (Staffa).
Marketing Editorial:
O "mistério da autoria" foi usado para gerar expectativa (estratégia pioneira).
Curiosidades Relevantes
Alexandre de Azevedo: Ator famoso por papéis dramáticos, o que sugere versatilidade ao aceitar uma comédia.
Grafias Arcaicas: "Theatro", "mysterio", "enthusiasmo" (normas pré-Reforma Ortográfica).
Preço Acessível: Rs. 2$500 equivalia a 2 dias de trabalho de um operário – estratégia para ampliar acesso.
Sobrevivência da Obra
Raridade: Poucos exemplares conhecidos (não há registros na Biblioteca Nacional ou acervos digitais).
Legado:
Mário Domingues tornou-se cronista de O Paiz e crítico teatral influente.
O Trianon fechou em 1924, tornando esta edição um testemunho de sua era áurea.
"Tinha de Ser..." não é só uma comédia: é um manifesto silencioso pela cultura brasileira.
PREFÁCIO DOS AUTORES
A razão de ser deste livro
Quis Alexandre Azevedo reconhecer em TINHA DE SER... uma comédia que poderia entrar para o repertorio escolhido de sua companhia. Teria pela primeira vez errado o ilustre artista? E possível. Mas isso não impediria do nosso trabalho theatral constituir um exemplar a mais na bibliotheca de Nicolino Figgiani, que tomou a si, no intuito de colaborar com o seu dedicado amigo Sr. J. R. Sidfi ao levantamento do nosso theatre, a empresa de editar as peças representadas no querido theatre da elite carioca. Eis a razão de ser do presente livro.
OS AUTORES
NOTA DO EDITOR
Esta peça chegou envolta em grande mysterio às mãos do director da companhia do Trianon. Ninguém sabia quem eram os seus autores. E, logo a leitura das primeiras scenas, Alexandre Azevedo, conforme me declarou, viu que se tratava de “um trabalho feito por quem sabe o que é theatro”. O artista entrou a elogiar calorosamente a comédia e, sem perda de tempo, começou a ensaiá-la. Nessa ocasião não houve um só actor, uma só actriz do theatrinho da Avenida, que não fizesse côro aos elogios de Azevedo à “peça mysteriosa”. No Trianon o enthusiasmo pelo “encantador original de um desconhecido e curioso escriptor” foi num admirável crescendo. Eu então resolvi imprimir Tinha de Ser... Já havia dado à luz da publicidade duas obras do mesmo gênero; e foi com immenso prazer que tomei, commigo mesmo, esse compromisso.
Quando os ensaios da peça iam a meio, quando a impressão já estava combinada — eis que, com satisfação immensa para a gente do Trianon e especialmente para mim, declaram-se autores da “comédia sem autor”. Mario Domingues e Mario Magalhães, aquelle meu particular amigo, esse conhecido de pouco tempo, mas cujas qualidades de carácter e de crítico de theatre fazem com que eu sinceramente o admire.
Por todos esses motivos assume proporções enormes o prazer que experimento, oferecendo ao público ensejo de conhecer, atravez da leitura, uma obra que, surgindo como espuria, tem a assigna-la dois espíritos brilhantes como são os de Mario Domingues e de Mario Magalhães.
De resto, divulgando pelo livro esta peça, venho mais uma vez mostrar a minha sympathia pelo programma traçado pelo sr. J. R. Staffa qual seja o de contribuir o mais possível para o desenvolvimento do Theatro Nacional, determinando a montagem no seu Trianon de quantos originaes brasileiros se apresentem à altura do nível intelectual do público franqueador do theatrinho da Avenida, que, cheio de glorias, passará a figurar em paginas de ouro na história do Theatro Brazilieiro, impondo a inscripção nessas mesmas páginas do nome do conhecido empresário, amigo do Brazil e do povo deste grande paiz.
O EDITOR


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