Encontrei aqui em casa mais uma reliquia da educação brasileira do século 20: a 28ª edição do manual "Verbos Portugueses e Rudimentos de Análise Léxica", publicado nos anos 1980 pela editora Dinah Silva, de Campos dos Goytacazes (RJ). Mais que um livro, é um testemunho da cultura escolar de uma era.
o manual traz:
Conjugações verbais completas (do "eu amo" ao "eles amarão")
Análise léxica detalhada (radicais, sufixos, formação de palavras)
Selo de aprovação do Conselho Superior de Instrução (antecessor do MEC)
Seu autor, Professor Viveiros de Vasconcelos, era figura respeitada: catedrático do Liceu de Humanidades e ex-diretor do "Colégio Viveiros" – instituição que provavelmente pertencia à sua família.
Uma Editora que Era Universo
A Dinah Silva não era só editora: funcionava como "armarinho, livraria e papelaria". Seu catálogo incluía:✅ Manuais didáticos
✅ Grinaldas de biscuit (sim, grinaldas!)
✅ Artigos escolares e serviços de encadernação
Seu endereço na Rua Barão de Cotegipe, 78 (centro de Campos/RJ) e o telefone "41E do Rio" revelam um modelo de negócios típico do interior: multifuncional e adaptado às demandas locais.
A Luta Contra a Pirataria
Um detalhe fascinante:
"Serão reputados falsos todos os exemplares não rubricados e numerados pelo editor"
Isso não era paranoia. Manuais populares como este eram alvo constante de falsificação – prova de seu valor pedagógico e alcance.
Por Que Este Livro Importa?
1. Peça Arqueológica da Educação
Com 28 edições (!!), formou gerações de estudantes quando não existiam apps de conjugação verbal.
2. Retrato do Brasil Profundo
Editoras como a Dinah Silva sustentavam a educação em cidades do interior sem verbas governamentais, vendendo de livros a artigos de costura.
3. Sobrevivente de uma Era
O prefixo telefônico "41E" (sistema da TELERJ dos anos 1970-80)
Como Identificar um Original
Procure:
🔖 Rubrica e numeração da editora
🏛️ Carimbo de aprovação do Conselho Superior de Instrução
✒️ Logotipo "DS" (provavelmente entrelaçado)
O nome da rua homenageia o Barão de Cotegipe, político do Império que aboliu a escravidão no Amazonas antes da Lei Áurea. Uma ironia? O livro foi impresso em Campos – cidade que foi epicentro do ciclo do açúcar com mão de obra escravizada.



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