Antônio Roberto de Paula, jornalista, escritor e documentarista, começa lembrando que sempre é um prazer voltar à Rádio UEM FM, onde aparece de tempos em tempos para rever amigos. Nascido em Lupércio, interior de São Paulo, ele brinca dizendo que Marília faz parte da região metropolitana de Lupércio. Apesar disso, só nasceu na cidade: com pouco mais de um ano mudou-se com a família para Maringá, onde cresceu e construiu sua vida. Voltou poucas vezes à cidade natal, sem mais familiares por lá, mas sempre com a sensação de retorno à origem.
A relação da família com Maringá começou nos anos 1950, quando seus avós se mudaram primeiro e, em seguida, seus pais — um mineiro e uma paulista, jovens, em busca de novas oportunidades. De Paula ressalta que praticamente toda sua família está ligada à cidade, com várias gerações já nascidas aqui. Sua infância transcorreu principalmente na Vila Operária, um dos primeiros bairros da cidade, onde viviam muitas das famílias que chegavam para construir a jovem Maringá.
Seu primeiro emprego veio cedo, aos oito anos, quando o pai era gerente de uma loja de tecidos. Morando por um período em Engenheiro Beltrão, ele precisava estudar pela manhã e ajudar na loja à tarde, o que segundo ele explicaria seu senso rígido de pontualidade, ainda presente hoje. Apesar disso, admite que não se considera uma pessoa disciplinada como gostaria. Teve facilidade com números, trabalhou em banco, mas diz, rindo, que não sabe cuidar das próprias finanças por não ter muito o que administrar.
O jornalismo entrou em sua vida gradualmente. Antes mesmo de atuar profissionalmente, colecionava revistas Placar aos 12 e 13 anos, colando pôsteres no quarto — algo que se tornaria, mais tarde, o embrião do Museu Esportivo de Maringá. Enviava cartas, textos e poesias para jornais desde os anos 1970, e em 1982 participou de aulas de jornalismo ministradas por Badini Neto. O início profissional, porém, veio no final dos anos 1980, colaborando com o Jornal do Povo e com a Rádio Cultura, comentando futebol local, especialmente na época áurea do Grêmio Maringá.
A paixão pelo jornalismo esportivo convivia com seu gosto pela poesia. Ele lembra que enviava poemas ao Diário do Norte do Paraná ainda adolescente. Seu perfil, portanto, sempre foi híbrido: o apaixonado pelo esporte e o observador sensível da cidade. Com o tempo, atuou em diversas editorias e chegou até a fazer cobertura policial, numa época em que as redações eram menos segmentadas.
A carreira já soma cerca de 35 anos. Curiosamente, ele já estava atuando quando decidiu cursar jornalismo. A necessidade de ter uma graduação pesava, especialmente porque havia começado Letras na UEM em 1981, mas abandonou o curso por conciliar trabalho noturno em banco e aulas matutinas. Quando surgiu a graduação em Jornalismo no Cesumar, ele foi um dos primeiros a se inscrever e se sentiu finalmente completo profissionalmente.
Ao recordar perrengues da profissão, De Paula menciona o episódio com o cantor Edson Cordeiro, nos anos 1990, quando, no meio do caos da redação, usou a expressão “vamos nas coxas mesmo”. O artista se irritou profundamente, e o jornalista passou vergonha — embora tenha conseguido salvar a entrevista. Lembra também das pressões sofridas no meio esportivo e das situações inusitadas, como quando ele e um fotógrafo foram confundidos com técnicos de ar-condicionado ao chegar para uma entrevista na Receita Federal.
Ao longo da carreira, De Paula teve a honra de trabalhar com grandes nomes da imprensa maringaense: Verdeliro Barbosa, Frank Silva, Tata Cabral, Edson Lima, Ângelo Rigon, Antônio Paulo Pucca, Arribuendo de Godói, entre tantos outros. Sempre destaca o aprendizado recebido e a camaradagem construída nesses anos — especialmente com o amigo Cláudio Viola, com quem escreveu e compôs.
Ele fala também da TV Girafa, projeto irreverente que criou, e da TV Clipping, empresa pioneira na região, tocada principalmente por sua esposa, Simone, desde 2002. Sobre as novas tecnologias e o fenômeno do “vídeo repórter”, diz que já via sinais disso em 2005 com a repórter Wanda Munhoz, e considera o avanço natural e positivo, ainda que desafiador para profissionais da “velha guarda”.
Entre suas reportagens mais marcantes, cita matérias de página inteira que produziu para o Jornal Hoje e outras publicações, como uma visita à penitenciária de Maringá e uma reportagem histórica com as prostitutas remanescentes da Vila Marombi, acompanhadas pelo fotógrafo Wayne Henry Jr., já falecido. Lembra também do trabalho em favelas e bairros periféricos, que sempre o emocionaram profundamente.
Se pudesse voltar no tempo, De Paula teria buscado especialização em outra área além do esporte — talvez cultura — e lamenta não ter desenvolvido a base literária que hoje busca recuperar lendo clássicos brasileiros. Mesmo assim, diz não ter arrependimentos.
A maior decepção da carreira foi sua saída do Diário. Dedicação intensa, longas jornadas e amor pelo trabalho tornaram o episódio especialmente doloroso. Uma matéria sobre uma colunista social gerou descontentamento familiar e resultou em sua demissão — a única da vida. Apesar disso, logo foi trabalhar na Câmara Municipal e superou o baque.
Foi diretor de imprensa da Câmara e também secretário de Comunicação no município, cargo que descreve como honroso, mas difícil, por não conseguir implementar ideias em meio à burocracia. Abriu mão do cargo por convicção pessoal e por apoio da esposa. Para ele, ninguém deve se confundir com o cargo que ocupa.
Ao falar sobre mágoas, De Paula afirma não guardar nenhuma. Pelo contrário, sente que a maturidade trouxe maior consciência de gratidão. Com o tempo, diz ele, passamos a reconhecer mais claramente as pessoas que nos ajudaram a conquistar nossos caminhos — e isso, para ele, vale mais que qualquer patrimônio material.
Encontros com a Imprensa” é um programa semanal que reúne jornalistas, repórteres, fotógrafos, radialistas, cinegrafistas e colunistas para celebrar suas histórias mais marcantes. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras, às 13h, e aos sábados, às 16h, na rádio UEM FM 106,9, no YouTube da UEM TV e no Spotify.
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