Tenebrae (1982), de Dario Argento — um dos mais representativos trabalhos do diretor italiano e uma das obras-chave do giallo na transição para o horror mais autoconsciente e metalinguístico dos anos 1980.
🎥 Tenebrae (1982) – A Metalinguagem do Horror
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento
Elenco: Anthony Franciosa, Daria Nicolodi, John Saxon, Mirella D’Angelo
Título original: Tenebre
Gênero: Giallo / Terror psicológico
País: Itália
Duração: 101 minutos
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Peter Neal (Anthony Franciosa), um famoso escritor de romances policiais, viaja para Roma para promover seu novo livro, "Tenebrae". Ao chegar, ele se vê envolvido em uma série de assassinatos inspirados em sua obra. À medida que os crimes se intensificam, Neal tenta investigar por conta própria, mergulhando em um jogo violento e psicológico em que a ficção e a realidade se confundem.
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Argento leva a estética do giallo ao seu ápice formal. A câmera desliza com elegância (em especial na famosa sequência da grua que atravessa a casa por fora), os assassinatos são encenados com coreografia quase operística, e o uso do sangue é estilizado ao extremo. A violência é visualmente hipnótica, mas nunca gratuita — é parte da proposta formal do filme, que discute a representação do horror na arte.
Em Tenebrae, Argento questiona o papel do artista na criação de violência ficcional. O protagonista é acusado (implícita ou explicitamente) de incitar os crimes com seus livros — uma crítica que o próprio Argento já havia sofrido da imprensa europeia. O filme responde a isso com uma narrativa circular e irônica, onde o autor e a obra se tornam parte do mesmo pesadelo.
Ao contrário de outros gialli mais convencionais, Tenebrae brinca com as expectativas. A identidade do assassino, o papel das vítimas, a relação com o erotismo e a crítica à mídia sensacionalista são tratados com uma complexidade que antecipa o horror autoconsciente dos anos 1990 (como Pânico, de Wes Craven).
A trilha composta por membros da banda Goblin, embora com uma pegada mais eletrônica e pós-disco, é pulsante e intensa. A música contribui para o tom futurista, urbano e ao mesmo tempo onírico do filme. A trilha é quase um personagem à parte.
Como em outras obras de Argento, a representação das mulheres é ambígua. Há um jogo entre empoderamento e objetificação, típico do giallo, mas Tenebrae insinua uma crítica interna a esse padrão, especialmente na forma como a personagem de Daria Nicolodi é tratada — mais ativa, menos vulnerável.
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Tenebrae foi banido em vários países, incluindo o Reino Unido, onde foi incluído na famosa lista de "video nasties".
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A estética clara, solar e arquitetônica (em oposição ao clima noturno de Suspiria ou Inferno) marca uma guinada estilística importante.
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A cena do machado no final é considerada uma das mais gráficas e estilizadas da carreira de Argento.
Tenebrae (1982)






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