A matéria da revista História Viva nº 101, intitulada "Bruxas nos Trópicos", escrita por Geraldo Pieroni, oferece um panorama detalhado e crítico sobre a perseguição de mulheres acusadas de feitiçaria e pacto com o demônio entre os séculos XVI e XVIII, especialmente aquelas que foram deportadas para o Brasil pela Inquisição portuguesa. Aqui vai uma análise e resumo do conteúdo:
🧙♀️
1. Bruxaria e Inquisição: o contexto europeu
-
A matéria começa com o caso de Ana Antônia, condenada por realizar um ritual de adoração ao diabo em Portugal, e deportada ao Brasil.
-
Margarida Gonçalves é outro exemplo: acusada de fazer pacto com o demônio, foi levada à penitência pública e deportada.
-
Esses casos mostram como o Santo Ofício via as mulheres: como criaturas fracas, facilmente seduzidas pelo demônio por sua natureza “perversa”.
2. A construção da imagem da bruxa
-
A perseguição a bruxas se intensificou a partir do fim da Idade Média, com tratados demonológicos como o Malleus Maleficarum (Martelo das Feiticeiras).
-
Bruxas eram vistas como “noivas de Satanás”, participantes de sabás e orgias demoníacas.
-
A misoginia era evidente: as mulheres eram associadas à fraqueza espiritual e sexual.
3. A chegada das bruxas ao Brasil
-
As mulheres deportadas da metrópole, ao chegarem ao Brasil, tornaram-se figuras difíceis de rastrear, já que os registros inquisitoriais encerravam-se na condenação.
-
No entanto, visitas do Santo Ofício à Bahia, Pernambuco e Grão-Pará revelam práticas sincréticas: pajelanças indígenas, curandeirismo africano e feitiçaria europeia se misturavam.
-
Casos como o de Antônia Maria, que invocava entidades demoníacas em Pernambuco, ou de Maria Barbosa e Ana Coelha, que faziam previsões e usavam objetos ritualísticos, ilustram essa mescla cultural.
4. O caso de Sabina e a força da tradição indígena
-
Sabina, uma indígena curandeira no Pará, foi acusada de realizar práticas mágicas para curar doenças e de ser autora de um feitiço mortal.
-
Apesar da pressão, confessou e descreveu um ritual que envolvia objetos simbólicos como ossos e penas.
-
Ela foi submetida a penitência, mas não se sabe o destino final.
📚
-
O texto mostra que a caça às bruxas foi um instrumento de controle social e religioso, dirigido principalmente contra mulheres — especialmente as mais velhas, viúvas, curandeiras ou que viviam à margem da sociedade.
-
A matéria revela como no Brasil a bruxaria se reconfigurou ao misturar práticas de diferentes matrizes culturais, resultando em um caldeirão mágico-religioso complexo e único.
-
Destaca-se também o contraste entre a fantasia inquisitorial (sabás, orgias, pacto demoníaco) e os registros reais, que mostram práticas populares de cura, adivinhação e religiosidade marginal.

Nenhum comentário :
Postar um comentário