DISCO 1: Lendas Urbanas e Maldições de Nascença
Este disco explora dois pilares do terror: as histórias contadas ao redor da fogueira e o medo de que o mal seja algo inato, uma herança monstruosa.
PESADELOS DIABÓLICOS (Nightmares, 1983)
Antologias de terror eram um formato popular nos anos 80, e Pesadelos Diabólicos é um dos exemplos mais sólidos e divertidos do período. Nascido de um projeto para a TV que acabou ganhando um lançamento nos cinemas, o filme tem uma qualidade de "episódio de Além da Imaginação" que é parte de seu charme.
Análise Crítica: A força do filme reside na simplicidade e no poder arquetípico de suas histórias, todas baseadas em lendas urbanas que parecem assustadoramente familiares. O primeiro conto, "Terror in Topanga", sobre a mulher que sai para comprar cigarros apesar do alerta sobre um maníaco à solta, é um exercício de suspense hitchcockiano brilhante. "The Bishop of Battle", com um jovem Emilio Estevez, é uma fantasia nostálgica e precursora sobre os perigos da imersão em videogames. "The Benediction" traz Lance Henriksen em um conto tenso sobre fé e uma misteriosa caminhonete demoníaca. O clímax, "Night of the Rat", sobre uma família aterrorizada por um rato gigante, é um "eco-terror" doméstico eficaz. O diretor Joseph Sargent amarra tudo com uma direção competente e sem firulas, criando um clássico de sessão da tarde que é uma homenagem perfeita ao poder das histórias que nos contamos no escuro.
SANGUE AMALDIÇOADO (The Beast Within, 1982)
Este filme é um exemplar puro-sangue do horror corporal (body horror) que explodiu no início dos anos 80, graças aos avanços nos efeitos práticos de maquiagem. É uma obra visceral, sombria e muitas vezes chocante, que leva a ideia de uma "puberdade monstruosa" às suas consequências mais literais e grotescas.
Análise Crítica: Sangue Amaldiçoado não é para os fracos de estômago. A premissa do estupro por uma criatura e o filho que herda a maldição é profundamente perturbadora, e o filme não se esquiva de seu material sombrio. O que o eleva acima de um mero filme de exploração são as atuações comprometidas de Ronny Cox e Bibi Besch como os pais desesperados e, claro, os efeitos especiais espetaculares. A cena da transformação do jovem Michael é um marco do gênero, uma sequência longa, dolorosa e graficamente repulsiva que rivaliza com as de Um Lobisomem Americano em Londres e O Enigma de Outro Mundo. A direção de Philippe Mora cria uma atmosfera pesada de tragédia sulista gótica. É uma pequena pérola do cinema de monstro, um filme que explora o horror de ter um corpo que se volta contra si mesmo de uma forma incontrolável e hedionda.
DISCO 2: Destinos Inevitáveis e Amores Fatais
Este disco se aprofunda no suspense sobrenatural, explorando a ideia de que a Morte não pode ser enganada e que a paixão pode ser a mais perigosa das armadilhas.
O ÚNICO SOBREVIVENTE (Sole Survivor, 1984)
Um filme fascinante e melancólico, cuja premissa se tornou mundialmente famosa quase duas décadas depois com a franquia Premonição. No entanto, a abordagem de O Único Sobrevivente é radicalmente diferente: mais sutil, atmosférica e focada no terror psicológico.
Análise Crítica: A genialidade do filme de Thom Eberhardt está em sua atmosfera de pavor silencioso. Não há acidentes espetaculares e mirabolantes aqui. A Morte, ou o destino, vem na forma de pessoas comuns, figuras pálidas e cadavéricas que simplesmente aparecem e olham para a protagonista, cercando-a lentamente. O horror vem da paranoia e do isolamento, da sensação de estar sendo observado por um mundo que já não lhe pertence. A performance de Anita Skinner é excelente, transmitindo a culpa e o medo de uma mulher que sente que está vivendo um tempo emprestado. É um suspense existencial, um filme que sugere que o verdadeiro terror não é a morte em si, mas a certeza de que ela está vindo e não há nada que se possa fazer para escapar. Uma obra inteligente e precursora que merece ser redescoberta.
FEITIÇO DIABÓLICO (Spellbinder, 1988)
Um thriller erótico com toques de horror que é a cara do final dos anos 80. Estrelado por uma deslumbrante Kelly Preston, o filme explora o arquétipo da "femme fatale", mas a leva para o território do ocultismo e dos cultos satânicos.
Análise Crítica: Feitiço Diabólico é um filme de gênero extremamente eficaz e envolvente. Ele funciona perfeitamente como um suspense sobre um homem comum (Tim Daly) sendo seduzido e arrastado para um mundo perigoso que ele não compreende. A diretora Janet Greek constrói a tensão de forma habilidosa, revelando aos poucos a verdadeira natureza da personagem de Kelly Preston e da comunidade a que ela pertence. O filme brinca com a fantasia masculina de encontrar uma mulher misteriosa e perfeita, apenas para transformar esse sonho em um pesadelo de manipulação e sacrifício. É um thriller bem construído, com uma atmosfera de paranoia crescente e uma reviravolta final surpreendente que o eleva acima da média dos suspenses da época. É um ótimo exemplo de como o terror e o noir podem se cruzar de forma sedutora e mortal.
DISCO 3: Mentes Perigosas e Natureza Vingativa
O disco final nos leva aos extremos do horror: a mente como a arma definitiva e a natureza em sua forma mais nojenta e implacável.
ALUCINAÇÕES DO MAL (The Sender, 1982)
Lançado um ano antes de A Hora da Zona Morta de Cronenberg, este filme britânico explora temas muito semelhantes de telepatia e o poder da mente de afetar a realidade física. É um horror psicológico inteligente, original e visualmente criativo.
Análise Crítica: A grande força de Alucinações do Mal é seu conceito central e como ele é executado visualmente. O diretor Roger Christian (que trabalhou como diretor de arte em Alien e Star Wars) cria sequências de pesadelo surreais e inesquecíveis, como a cena da mãe do protagonista se partindo em milhares de cacos de espelho ou o corredor infestado de ratos. O horror aqui é contagioso; os medos do telepata se tornam a realidade de todos ao seu redor. Zeljko Ivanek está excelente como o "Emissor", um jovem torturado por um poder que ele não consegue controlar, tornando-o uma figura trágica em vez de um monstro. O filme é uma exploração assustadora da empatia e da doença mental, sugerindo que os traumas podem literalmente sangrar para o mundo real. Uma obra-prima subestimada.
LESMAS (Slugs, muerte viscosa, 1988)
Do mestre espanhol do cinema de exploração trash, Juan Piquer Simón, vem esta joia do "eco-terror". Lesmas é exatamente o que seu título promete: um filme sobre lesmas carnívoras assassinas. É nojento, exagerado e incrivelmente divertido.
Análise Crítica: Ninguém assiste a um filme chamado Lesmas esperando sutileza, e Simón entrega o que o público quer em baldes. O filme é um festival de gore e nojeira, com algumas das mortes mais criativas e repulsivas do terror dos anos 80. As lesmas não apenas mordem; elas entram em corpos, causam explosões e transformam uma salada em uma armadilha mortal. O filme abraça sua própria estupidez com um entusiasmo contagiante. Os personagens são clichês, o diálogo é hilário e a lógica é inexistente, mas nada disso importa. Lesmas é a definição de um "filme de monstro para se divertir com os amigos", uma obra-prima do cinema B que se orgulha de sua capacidade de fazer o espectador se contorcer tanto de nojo quanto de tanto rir. Essencial para qualquer fã de horror de ataque de animais.

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