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quarta-feira, outubro 29, 2025

Obras-Primas do Terror: Anos 80 Vol. 1


 Esta coleção é um verdadeiro mergulho na nostalgia das prateleiras de videolocadoras dos anos 80, uma década que definiu muito do imaginário do terror moderno. Temos aqui uma seleção eclética que vai das lendas urbanas ao horror corporal, do suspense sobrenatural ao "eco-terror" nojento. É uma viagem fantástica pelos diversos sabores do medo oitentista.


DISCO 1: Lendas Urbanas e Maldições de Nascença

Este disco explora dois pilares do terror: as histórias contadas ao redor da fogueira e o medo de que o mal seja algo inato, uma herança monstruosa.

PESADELOS DIABÓLICOS (Nightmares, 1983)

Antologias de terror eram um formato popular nos anos 80, e Pesadelos Diabólicos é um dos exemplos mais sólidos e divertidos do período. Nascido de um projeto para a TV que acabou ganhando um lançamento nos cinemas, o filme tem uma qualidade de "episódio de Além da Imaginação" que é parte de seu charme.

Análise Crítica: A força do filme reside na simplicidade e no poder arquetípico de suas histórias, todas baseadas em lendas urbanas que parecem assustadoramente familiares. O primeiro conto, "Terror in Topanga", sobre a mulher que sai para comprar cigarros apesar do alerta sobre um maníaco à solta, é um exercício de suspense hitchcockiano brilhante. "The Bishop of Battle", com um jovem Emilio Estevez, é uma fantasia nostálgica e precursora sobre os perigos da imersão em videogames. "The Benediction" traz Lance Henriksen em um conto tenso sobre fé e uma misteriosa caminhonete demoníaca. O clímax, "Night of the Rat", sobre uma família aterrorizada por um rato gigante, é um "eco-terror" doméstico eficaz. O diretor Joseph Sargent amarra tudo com uma direção competente e sem firulas, criando um clássico de sessão da tarde que é uma homenagem perfeita ao poder das histórias que nos contamos no escuro.

SANGUE AMALDIÇOADO (The Beast Within, 1982)

Este filme é um exemplar puro-sangue do horror corporal (body horror) que explodiu no início dos anos 80, graças aos avanços nos efeitos práticos de maquiagem. É uma obra visceral, sombria e muitas vezes chocante, que leva a ideia de uma "puberdade monstruosa" às suas consequências mais literais e grotescas.

Análise Crítica: Sangue Amaldiçoado não é para os fracos de estômago. A premissa do estupro por uma criatura e o filho que herda a maldição é profundamente perturbadora, e o filme não se esquiva de seu material sombrio. O que o eleva acima de um mero filme de exploração são as atuações comprometidas de Ronny Cox e Bibi Besch como os pais desesperados e, claro, os efeitos especiais espetaculares. A cena da transformação do jovem Michael é um marco do gênero, uma sequência longa, dolorosa e graficamente repulsiva que rivaliza com as de Um Lobisomem Americano em Londres e O Enigma de Outro Mundo. A direção de Philippe Mora cria uma atmosfera pesada de tragédia sulista gótica. É uma pequena pérola do cinema de monstro, um filme que explora o horror de ter um corpo que se volta contra si mesmo de uma forma incontrolável e hedionda.


DISCO 2: Destinos Inevitáveis e Amores Fatais

Este disco se aprofunda no suspense sobrenatural, explorando a ideia de que a Morte não pode ser enganada e que a paixão pode ser a mais perigosa das armadilhas.

O ÚNICO SOBREVIVENTE (Sole Survivor, 1984)

Um filme fascinante e melancólico, cuja premissa se tornou mundialmente famosa quase duas décadas depois com a franquia Premonição. No entanto, a abordagem de O Único Sobrevivente é radicalmente diferente: mais sutil, atmosférica e focada no terror psicológico.

Análise Crítica: A genialidade do filme de Thom Eberhardt está em sua atmosfera de pavor silencioso. Não há acidentes espetaculares e mirabolantes aqui. A Morte, ou o destino, vem na forma de pessoas comuns, figuras pálidas e cadavéricas que simplesmente aparecem e olham para a protagonista, cercando-a lentamente. O horror vem da paranoia e do isolamento, da sensação de estar sendo observado por um mundo que já não lhe pertence. A performance de Anita Skinner é excelente, transmitindo a culpa e o medo de uma mulher que sente que está vivendo um tempo emprestado. É um suspense existencial, um filme que sugere que o verdadeiro terror não é a morte em si, mas a certeza de que ela está vindo e não há nada que se possa fazer para escapar. Uma obra inteligente e precursora que merece ser redescoberta.

FEITIÇO DIABÓLICO (Spellbinder, 1988)

Um thriller erótico com toques de horror que é a cara do final dos anos 80. Estrelado por uma deslumbrante Kelly Preston, o filme explora o arquétipo da "femme fatale", mas a leva para o território do ocultismo e dos cultos satânicos.

Análise Crítica: Feitiço Diabólico é um filme de gênero extremamente eficaz e envolvente. Ele funciona perfeitamente como um suspense sobre um homem comum (Tim Daly) sendo seduzido e arrastado para um mundo perigoso que ele não compreende. A diretora Janet Greek constrói a tensão de forma habilidosa, revelando aos poucos a verdadeira natureza da personagem de Kelly Preston e da comunidade a que ela pertence. O filme brinca com a fantasia masculina de encontrar uma mulher misteriosa e perfeita, apenas para transformar esse sonho em um pesadelo de manipulação e sacrifício. É um thriller bem construído, com uma atmosfera de paranoia crescente e uma reviravolta final surpreendente que o eleva acima da média dos suspenses da época. É um ótimo exemplo de como o terror e o noir podem se cruzar de forma sedutora e mortal.


DISCO 3: Mentes Perigosas e Natureza Vingativa

O disco final nos leva aos extremos do horror: a mente como a arma definitiva e a natureza em sua forma mais nojenta e implacável.

ALUCINAÇÕES DO MAL (The Sender, 1982)

Lançado um ano antes de A Hora da Zona Morta de Cronenberg, este filme britânico explora temas muito semelhantes de telepatia e o poder da mente de afetar a realidade física. É um horror psicológico inteligente, original e visualmente criativo.

Análise Crítica: A grande força de Alucinações do Mal é seu conceito central e como ele é executado visualmente. O diretor Roger Christian (que trabalhou como diretor de arte em Alien e Star Wars) cria sequências de pesadelo surreais e inesquecíveis, como a cena da mãe do protagonista se partindo em milhares de cacos de espelho ou o corredor infestado de ratos. O horror aqui é contagioso; os medos do telepata se tornam a realidade de todos ao seu redor. Zeljko Ivanek está excelente como o "Emissor", um jovem torturado por um poder que ele não consegue controlar, tornando-o uma figura trágica em vez de um monstro. O filme é uma exploração assustadora da empatia e da doença mental, sugerindo que os traumas podem literalmente sangrar para o mundo real. Uma obra-prima subestimada.

LESMAS (Slugs, muerte viscosa, 1988)

Do mestre espanhol do cinema de exploração trash, Juan Piquer Simón, vem esta joia do "eco-terror". Lesmas é exatamente o que seu título promete: um filme sobre lesmas carnívoras assassinas. É nojento, exagerado e incrivelmente divertido.

Análise Crítica: Ninguém assiste a um filme chamado Lesmas esperando sutileza, e Simón entrega o que o público quer em baldes. O filme é um festival de gore e nojeira, com algumas das mortes mais criativas e repulsivas do terror dos anos 80. As lesmas não apenas mordem; elas entram em corpos, causam explosões e transformam uma salada em uma armadilha mortal. O filme abraça sua própria estupidez com um entusiasmo contagiante. Os personagens são clichês, o diálogo é hilário e a lógica é inexistente, mas nada disso importa. Lesmas é a definição de um "filme de monstro para se divertir com os amigos", uma obra-prima do cinema B que se orgulha de sua capacidade de fazer o espectador se contorcer tanto de nojo quanto de tanto rir. Essencial para qualquer fã de horror de ataque de animais.

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