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terça-feira, maio 24, 2011

O Cliente e Seu Vinho por Luiz Carlos Zanoni

Fonte: Revista Muffato numero 6 - Primavera de 2009
Será que em Maringá temos algum restaurante que conhece o direito de rolha? 
Levar o próprio vinho ao restaurante é jogo de regras ainda obscuras entre nós, uma questão delicada que já provocou muito barraco. Tem restaurante que se ofende, reage de forma inapropriada, encarando como uma bofetada em sua carta. Do mesmo modo, certos clientes ignoram o básico da etiqueta, acham-se no direito de aparecer com vinhos rigorosamente comuns ou abaixo dos oferecidos pelo estabelecimento. Fora do bom senso não há salvação.

As regras não estão escritas. Pertencem ao mundo dos costumes, da etiqueta e do cavalheirismo. É preciso que dois interesses sejam contemplados, o do restaurante, para o qual a carta de vinhos é ítem valioso de sobrevivência, e o do cliente, que deseja celebrar um momento especial na esfera familiar ou dos negócios com um rótulo repleto de credenciais.

Importante: sem prévia consulta, jamais. Telefonar perguntando não custa nem ofende. Curiosamente, os restaurantes com boas adegas, que trabalham profissionalmente o vinho, são os mais compreensivos, encaram com naturalidade. Alguns estipulam uma taxa, a chamada "rolha", que custeia o serviço e costuma equivaler o preço de uma garrafa de valor médio da carta, cerca de 20 ou 30 reais. Outros nada cobram. E premiam a fidelidade permitindo inclusive que o cliente estoque algumas garrafas na adega da casa, o que sempre lhe dará bons motivos para um retorno.

Qualidade é o ponto seguinte. Os restaurantes que dizem sim realmente se sentem honrados pela presença de um rótulo de bom gosto, fruto de pesquisa individual e guarda cuidadosa. Vinhos assim enobrecem a culinária da casa, marcam a consideração que lhe devota o cliente. Nem sempre está em questão o preço da garrafa, embora as especiais e de safras importantes não custem pouco. Mas o vinho deve ser incomum, situar-se fora do painel proposto na carta do restaurante, ou acima dele. Pega mal, muito mal, chegar com alguma coisa de nível igual. Inferior, nem pensar.

Também não está escrito, porém pedir um vinho do restaurante é retribuição esperada. Talvez um branco ou um espumante para acompanhar a entrada, talvez um Porto para o final. E manda a etiqueta que o serviço receba uma gratificação generosa nessas ocasiões. Gesto elegante, embora não obrigatório, é oferecer uma taça à casa, incluindo no circulo de prazer alguém que conhece e sabe valorizar vinhos de categoria.

Exemplo negativo foi o da pessoa que levou uma sacola de tintos argentinos da uva Malbec para festejar com parentes o aniversário da mulher. Nada contra Malbecs. Os tais, porém, eram comuns, disponíveis em todas as prateleiras. O próprio restaurante tinha às pencas. Mas há também casos de estabelecimentos que, por ignorância pura, vetam o vinho do cliente mesmo dispondo de pouco para oferecer. Um amigo relata que, numa churrascaria da cidade, com modernas instalações por sinal, além da negativa ouviu o gerente cochichar ao garçom que "é preciso abrir o olho, hoje trazem o vinho, amanhã a comida". O tal gerente não sabia nem o que significava cobrar a rolha. O cliente tomou uma cerveja e não voltou nunca mais. (Luiz Carlos Zanoni)

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