A vida eterna é a pior morte
O cinema de terror é um subgênero geralmente desprezado pela crítica, cultuado por diferentes tribos e dividido por outros mil subgêneros. Raramente um filme que fala de vampiros poderia participar (e ganhar) inúmeros festivais de cinema alternativo.
Por outro lado, o cinema sueco é sinônimo de arte, começando por Bergman. E o forte candidato a melhor filme do ano exibido no Brasil vem dessas terras geladas: "Deixa Ela Entrar" (Lät den rätte komma in ) de Tomas Alfredson
Não temos aqui algo descomunal como as clássicas obras-primas bergmanianas. O que temos é um filme contemporâneo e surpreendente. Algo impensado até então como uma mistura de cinema europeu, vampiros góticos da hammer, drama adolescente e inquietações da infância que nos rebatem a Carlos Saura.
Aqui, Oskar (Käre Hedebrant) e a vampira Eli (Lina Leandersson), ambos de 12 anos, tentam decifrar a passagem do tempo, a vida em seus métodos, a morte como passagem ou o viver eterno.
Oskar é perseguido, maltratado pelos coleguinhas da escola em um bairro proletário da cidade de Estocolmo, na década de 80. E Eli é uma vampira condenada a viver com seus 12 anos eternamente. Poesia estudantil? Alfredson soube extrair o aparente clichê e transforma-lo em cinema de verdade.
Não tome sol e só entre numa casa quando for convidado. Essas são as regras, pois a pior morte é a vida eterna.. E já disseram que se fossemos eternos, tudo mudaria. Como somos finitos, muito permanece. A jovem vampira Eli sabe muito bem o que representa esse pensamento de Bertold Brecht.
E o tempo é um dos personagens ocultos do filme. Será, então, que esse senhor de todos os ritmos é capaz de apresentar ‘Deixa Ela Entrar” como objeto de atenção da cinematografia nesse início de século? A porta está aberta. Entre. (Marcelo Bulgarelli)
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