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segunda-feira, agosto 18, 2025

Times Square e a explosão de cores, rebeldia e consumo nos anos 80





O material da revista TV Contigo, datado do fim de 1980 ou início de 1981, é um retrato perfeito do cruzamento entre cultura pop, rebeldia juvenil e apelo comercial — elementos que marcaram a virada daquela década. No centro está o filme Times Square, vendido pela matéria como "o musical dos anos 80". A expectativa era alta: o longa prometia ser para a nova geração o que Hair e Os Embalos de Sábado à Noite haviam sido nos anos 70.


O texto carrega aquele entusiasmo típico das matérias promocionais da época: “banho de cor, ação, som!” — tudo embalado por nomes de peso no cenário musical: Lou Reed, Joe Jackson, The Cure, Robin Gibb, Suzi Quatro. O foco recai sobre duas jovens de Nova York que rompem com padrões sociais: Nicky (Robin Johnson), de visual punk, e Pamela (Trini Alvarado), mais tímida, mas igualmente inconformada. Unidas por acaso, tornam-se símbolo de resistência e liberdade, incentivadas por um disc-jóquei alternativo vivido por Tim Curry.


Mais do que um musical, Times Square captura o espírito de uma juventude ansiosa por se expressar — no visual, na música, na atitude. É punk e pop ao mesmo tempo, marginal e mercadológico, rebelde e vendável. A matéria aponta que o filme “marca uma época”, mas ao mesmo tempo insere suas protagonistas no universo da “moda”, da “fama”, do “sucesso” — conceitos que o próprio longa ironiza. Essa ambiguidade entre rebeldia e espetáculo é o que torna Times Square tão emblemático da cultura pop da virada dos 80.


Essa ambiguidade também se reflete no contraste editorial da revista: logo ao lado das fotos cheias de atitude das garotas punk, aparece um enorme anúncio da Cinta Esbelt. Prometendo afinar cinturas, moldar o corpo e devolver “elegância”, a propaganda traduz o ideal de feminilidade da época — magra, controlada, moldada. Enquanto Nicky e Pamela gritam por liberdade em cima do palco, o anúncio grita por contenção e padronização. A rebelião punk ao lado da compressão do corpo feminino — essa justaposição não é casual.


No fim das contas, a revista nos entrega muito mais do que uma prévia de um musical teen: ela é um espelho perfeito das contradições culturais dos anos 80, em que liberdade e consumo, atitude e estética, contracultura e mercado andavam de mãos dadas. Times Square, ainda que um fracasso comercial na época, hoje é cultuado exatamente por ter sido fiel à sua proposta: mostrar garotas fora do padrão quebrando tudo num mundo que insistia em manter tudo apertado — inclusive as cinturas.


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