Chico Buarque REVISTA AMIGA N 428 - 02 08 1978
Os teóricos do futebol que nos perdoem, mas "polivalente" é Chico Buarque. Ele encara qualquer campo: teatro, cinema, disco. Faz "tabela" com parceiros de hoje ou de outros séculos, sem jamais deixar cair o nível de suas criações. Sua obra mais recente — Ópera do Malandro — inova e abre espaço para o musical brasileiro. Para essa comédia, Chico Buarque criou 17 novas músicas dos mais variados ritmos: chorinho, canção, samba, fox-trot, bolero, marchinha, samba-canção, valsinha, tango, beguine e até música clássica. Pois, numa inédita parceria, ele botou letra em melodias de Verdi, Puccini e Wagner para compor o epílogo do espetáculo.
A Ópera do Malandro
O texto da Ópera do Malandro é uma adaptação livre da Ópera do Mendigo, de John Gay (escrita em 1728), com elementos que Chico Buarque colheu na Ópera dos Três Vinténs, que Brecht escreveu em 1938. O trabalho de pesquisa ele dividiu com Marina Severo e um grupo de amigos — Luís Antônio Martínez Correa, Rita Murtinho, Maurício Sette e Carlos Gregório.
"A ideia original era traduzir a Ópera dos Três Vinténs, de Brecht. Depois pensamos em adaptar para a realidade brasileira a peça Joana do Maladouro, de um autor. Uma adaptação à maneira de Brecht, que pegava textos dos outros, adaptava e recriava em cima", explica Chico.
A peça, que estreou em 14 de julho de 1978 no Teatro Ginástico, sob direção de Luís Antônio Martínez Correa, tem um elenco de 22 atores, incluindo Marieta Severo, Ary Fontoura, Maria Alice Vergueiro e Neuza Borges.
O disco da Ópera
Chico revela que o disco da Ópera do Malandro seria lançado junto com a peça, mas o projeto foi adiado. "Queremos um disco ligado mesmo à Ópera, com todas as músicas, fotos, textos, talvez um álbum duplo", diz. Enquanto isso, seu próximo LP solo, com a música "Feijoada Completa", deve sair entre setembro e outubro.
Chico e o teatro
Sobre seu processo criativo, Chico comenta: "Em Gota D’Água, Paulo Pontes escreveu e eu dei a forma final. Já na Ópera, o trabalho foi de conjunto". Ele também brinca com uma citação de Brecht adaptada: "Aquele alemão que escreve para teatro, o tal de Brecht, que rouba as ideias dos outros e faz coisas maravilhosas".
Shows? Só se for inevitável
Chico não se apresenta em shows há dois anos. "Não é timidez. É falta de jeito. Gosto mesmo é do trabalho de criação", afirma. E sobre interpretar suas próprias músicas? "O Caymmi pode dizer que é o melhor intérprete de si mesmo. Eu prefiro a Bethânia cantando minhas coisas".
*Fonte: Revista Amiga, edição 428, 02/08/1978*

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