Entrevista de Mário Quintana para a jornalista Jussara Marchand, publicada no Jornal do Brasil em 3 de outubro de 1992. Direto dos arquivos do Bar do Bulga.
O senhor diz que aprecia nos outros a qualidade de não fazer perguntas. As perguntas sempre lhe incomodaram ou isso é um
disfarce?
— Minha vida intima não é da conta de ninguém. Nem minha.
— Seus poemas nos lembram o garoto sapeca que já forno» um dia, roubando doces das janelas.
— Doce só é bom mesmo quando é roubado. ^ r
— O poeta já disse que seu método de trabalho é a preguiça, sem forçar a mão. De todas as vezes que a preguiça baixou, qual o melhor poema que ela deixou?
— A preguiça é a mãe do progresso: "Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a.roda..."
— Jorge Amado, o poeta da prosa safada, completou 80 anos. Que conselho daria a ele do alto dos seus seis anos à frente dele? '
— Quando Jorge Amado completou 80 anos escrevi-lhe: "Um abraçâo do amigo velho Mário Quintana".
— Um poeta consagrado poderia dar um conselho aos seres humanos que sempre têm uma poesia escondida e vergonha de mostrar aos outros?
— Que espere o maior tempo possível para publicá-las. Ai terá mais experiência da técnica poética e maior experiência da vida.
— Para o senhor qual o valor de um amigo? Um amigo será mesmo um anjo disfarçado de ser humano?
— Os chatos se dividem em duas categorias: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos...
— Certa vez, o senhor disse que deixar Porto Alegre é que é ser provinciano. Porto Alegre é mesmo a sua paixão eterna ou o senhor ficou para provar que não é provinciano?
,
— Porto Alegre é o meu chão e o meu céu...
— O senhor sempre esteve cercado por secretárias. O que elas representam para o senhor? .
— Homem não. Por isso é que é bom só ter secretárias. "'
— Quem conhece o poeta classifica-o de tímido e introvertido. Isso é mesmo verdade?
— Sou tímido... mas minha timidez conquistou o mundo.
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