Devia estar no terceiro ano de faculdade quando resolvi fazer um estágio ou coisa parecida. Seria no
O Diário de Petrópolis. Estaria na redação somente na sexta e sábado, pois estudava no Rio. O editor era Marin Melquíades, No primeiro dia ( e único dia), passei a tarde fazendo textos curtos na redação. Já estava indo embora quando um casal chegou. Ele e ela estavam indignados. A moça reclamava de ter comprado um tenis que havia "descolado logo na primeira lavagem". Munido de papel, caneta e de um inútil gravador, fomos juntos tentar ver a situação na loja de sapatos. O clima ficou quente, O casal discutia com os proprietários. Em determinado momento, comecei a fazer perguntas. O proprietário - de sotaque portugues - queria saber quem eu era. Naquele momento, eu não tinha como provar minha condição de reporter coió. O cara chamou a policia e lá fomos nós: eu , o casal reclamante e o português. Todos na delegacia. O delegado de plantão - famoso pela arrogancia - foi logo dizendo: "tá\ todo mundo preso". Quando ficou sabendo o motivo da bronca, reclamou alegando que a policia não tinha nada com isso. Nessa altura, o editor Marin tentava "me libertar", convencendo o delegado de que eu era apenas um pobre estagiário. No final, o casal iria finalmente receber um novo par de tenis e eu poderia tomar o rumo da redação. Contei tudo pro Marin. Eu não sabia como escrever e descrever aquilo e fui embora. Estava muito assustado. Marin não perdeu tempo e escreveu: "Confusão em sapataria termina em caso de polícia. Levaram até nosso estagiário". Nunca mais tive contato com ele.
Hoje ficou sabendo que Marin Melquíades morreu ontem, em casa, aos 57 anos, vítima de infarto fulminante,. Ele deixa esposa, três filhas e dois netos. O corpo foi sepultado em Juiz de Fora, cidade em que se formou em jornalismo, em 1974. Por mais de 20 anos foi o editor do Diário de Petrópolis. E de uma maneira ou outra, mostrou que eu não devia desistir dessa emocionante e inglória profissão.
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