O que vou narrar poderia ser trágico se não fosse cômico. O dia em que quase matei uma das maiores lendas da cultura brasileira.
Devia ser 1987. Saí da Faculdade Hélio Alonso e fui para uma aula de extensão num bar da rua Farani, em Botafogo. Estava eu a filosofar e a apreciar um suco de cevada quando o André chegou.
- Vamô embora! Festival de cinema nacional! Só clássicos!
Eu não estava muito a fim de ir. Preguiça pura. Mas ele insistiu. Paguei a conta a saímos em disparada para o ponto de ônibus pois a sessão começaria em poucos minutos.
O Festival era no cine Ricamar na avenida Nossa Senhora de Copacabana. Em exibição o clássico ‘Todas as Mulheres do Mundo” do Domingos de Oliveira protagonizado pela Leila Diniz.
Era uma oportunidade de ver um filme que raramente sairia em vídeo tendo como atriz principal um ícone da geração 60.
Mas estávamos atrasados. Foi só sair do ônibus e entrar correndo no cinema. André disparou na frente. Tentei imita-lo mas esbarrei em algo. Por instinto, seguei o que estava na minha frente, no colo, temendo algo pior.
A ficha caiu quando André anunciou:
-É o Grande Otelo!
Sim. Aquele baixinho, tombado pelo patrimônio histórico, estava no meu colo, me xingando a doidado.
Ou programas de tevê debatendo “o que leva um jovem sem educação a não respeitar os idosos?”
Pedi desculpas rapidamente e me escondi no meio das poltronas.
Nenhum comentário :
Postar um comentário