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domingo, abril 27, 2025

Elizabeth Bishop


 Os fragmentos de cartas de Elizabeth Bishop (1911-1979), escritos entre 1952 e 1968, revelam uma relação profundamente ambivalente com o Brasil — país onde viveu por quase duas décadas com sua parceira, a arquiteta Lota de Macedo Soares. A seleção expõe desde o encantamento inicial até o desgaste político e emocional que marcou seus últimos anos no Rio.

TRECHOS

Em cartas aos amigos, como a também poetisa Marianne Moore e seu psicanalista, entre outros, Elizabeth Bishop mostra como foi experiência brasileira.

"Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1952

Lota vendeu uma das suas propriedades para um famoso zoólogo polonês e você só tem que andar por dois minutos pela montanha para ver um jaguar negro, um camelo e todos os pássaros mais lindos do mundo. Penso em você a todo instante.

O zoólogo me deu um tucano de aniversário no outro dia. Ele ou ela (o tucano) é muito manso e travesso — joga moedas por todo o quarto — voa carregando minha torrada do café da manhã. Ele é preto, mas com olhos de um azul elétrico, um bico azul e amarelo, garras azuis e penas vermelhas aqui e ali — várias embaixo de sua cauda com um pôr-do-sol quando ele vai dormir. De qualquer maneira nunca ganhei presente mais belo".

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"Samanthaia, Petrópolis

13 de março de 1952

O correio de Petrópolis para o Rio — 30 ou 40 milhas — muitas vezes demora duas semanas. Não quero reclamar do correio: ele é parte da sublime imprecisão do Brasil... onde uma nuvem está entrando neste exato instante em meu quarto".



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"26 de julho de 1952

Enquanto estávamos fora a cozinheira se iniciou na pintura, provando que arte só floresce em tempos de ócio, presumo — e acabou por se tornar uma primitiva maravilhosa ... Lota disse a ela para limpar as latas de lixo — ela é quase selvagem e muito suja! apesar de excelente cozinheira — e dez minutos depois achamos as latas pintadas em violentos vermelhos e rosas. Lota tem alguns potes que Porfínari fez para ela e nós temos que admitir que os da cozinheira são muito melhores...

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"22 de outubro de 1964

O parque (Aterro do Flamengo) está ficando cada vez mais bonito. Lota está se tornando tão famosa que até vendedores de sapato à reconhecem. Ela teve essa grande idéia de construir salas de leitura para crianças nos playgrounds. Há uma escassez delas aqui".

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"15 de março de 1966

Lota teve uma verdadeira crise — uma crise nervosa e física — devido aos anos de trabalho excessivo e preocupação — e agora eu desejo não ter aceito o convite para ir a Seattle, mas me parecia a melhor coisa a fazer na ocasião. O parque dela — ela fez um magnífico trabalho, mas de que adiantar trabalhar para qualquer governo?"

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"4 de janeiro de 1968

Deixei o Brasil com o coração carregado e espero nunca mais ver o Rio de novo. Os últimos anos foram tão horríveis e exaustivos."

Você tem que acreditar quando eu lhe digo como nós nos amávamos. Nunca vai haver alguém como ela nesse mundo ou em minha vida, e nunca vou deixar de sentir saudades dela"

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