Por Mauro Dias – 19/09/2000
![]() |
sidney miller. macalé, marcos valle, torquato neto, caetano, |
No início de 1980, Sidney Miller planejava um show ao lado do violonista Maurício Tapajós. Com um repertório de músicas inéditas, entregou uma fita demo ao MPB-4, grupo que popularizara sua composição mais célebre: *"Pois É, Pra Quê?"*, um retrato cru do desalento. Miltinho, violonista do quarteto, guardou a fita após ouvi-la.
Em 16 de julho daquele ano, Sidney morreu aos 35 anos. Oficialmente, de câncer. O silêncio sobre suas últimas horas — saiu da Funarte após o expediente e não voltou — deixou margem para especulações sobre um gesto extremo. A fita caiu no esquecimento.
**Duas décadas depois**, a compositora Cristina Saraiva, devota de sua obra, idealizou um tributo. O projeto inicial, um CD com participações de Chico Buarque, Elba Ramalho e Quarteto em Cy, transformou-se em algo maior quando Miltinho ressuscitou a fita perdida: cinco músicas inéditas, incluindo *"Soneto sobre Valsa"*, variação de *"Paisagem sobre a Valsa"* (gravada postumamente por Alaíde Costa). O disco duplo, agora em busca de patrocínio via Lei Rouanet, promete revelar essas preciosidades.
**Um artista à frente do tempo**
Nascido no Rio em 1945, Sidney estreou nos festivais da década de 1960 com letras que mesclavam lirismo e crítica social. Em 1967, venceu o Festival da TV Record com *"A Estrada e o Violeiro"* (dividindo o palco com Nara Leão), superando concorrentes como *"Roda Viva"* (Chico) e *"Alegria, Alegria"* (Caetano). Nara, sua grande mentora, gravou cinco de suas composições em um único LP em 1966 — feito raro para a época.
**Ironias do destino**
A Funarte, onde Sidney trabalhou, hoje abriga uma sala com seu nome, mas recusou-se a apoiar o projeto de Cristina. A instituição, fechada por Collor nos anos 1990, parece ecoar o descaso histórico com sua memória. Enquanto isso, as músicas resgatadas revelam um Sidney ainda mais profundo: *"Pede Passagem"*, escolhida por Chico, é um samba sobre frustrações que diz: *"Quem não soube o que é ter alegria na vida / Tem toda a avenida pra ser muito feliz"*.
tributo necessário**
Cristina Saraiva, que descobriu Sidney através dos dois únicos discos que ele lançou em vida, encara o projeto como missão. As gravações inéditas, somadas a releituras de clássicos, podem finalmente dar a Sidney Miller o lugar que merece na MPB — não como "o Chico que não vingou", mas como um dos poetas mais originais de sua geração.
*"Sidney era um pessimista alegre. Suas músicas doíam, mas tinham um humor que só os grandes sabem ter"* — Hermínio Bello de Carvalho, produtor do disco póstumo da Funarte.
Nenhum comentário :
Postar um comentário