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domingo, dezembro 22, 2024

Sophia de Mello Breyner Andresen - Carta de Natal a Murilo Mendes


A poetisa lusitana lamenta a ausência da missiva natalina que o poeta brasileiro Murilo Mendes lhe encaminhava todos os anos quando vivo, ele que faleceu exatamente na capital de Portugal, Lisboa, em 13 de agosto de 1975, no mesmo ano, portanto, no qual alguns meses depois, o poema veio a ser redigido.


O poema, datado num dia como o de hoje (22 de dezembro), vale, diz Andresen, como um postal que lhe seria endereçado no momento mesmo em que ocupada ela estava com as compras do Natal, em puro estado de contingência que, a despeito de sua fugacidade, seria o mesmo a unir o Eterno a um dia na vida de cada um de nós.


J.A.R. – H.C.


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Sophia de Mello B. Andresen

(1919-2004)


Carta de Natal a Murilo Mendes


Querido Murilo: será mesmo possível

Que você este ano não chegue no verão

Que seu telefonema não soe na manhã de Julho

Que não venha partilhar o vinho e o pão


Como eu só o via nessa quadra do ano

Não vejo a sua ausência dia-a-dia

Mas em tempo mais fundo que o quotidiano


Descubro a sua ausência devagar

Sem mesmo a ter ainda compreendido

Seria bom Murilo conversar

Neste dia confuso e dividido


Hoje escrevo porém para a Saudade

– Nome que diz permanência do perdido

Para ligar o eterno ao tempo ido

E em Murilo pensar com claridade –


E o poema vai em vez desse postal

Em que eu nesta quadra respondia

– Escrito mesmo na margem do jornal

Na Baixa – entre as compras do Natal


Para ligar o eterno e este dia


Lisboa, 22 de dezembro de 1975

Em: “O nome das coisas” (1977)





Referência:


ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Carta de Natal a Murilo Mendes. In: __________. Coral e outros poemas. Seleção e apresentação de Eucanaã Ferraz. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2018. p. 281-282.





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