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quarta-feira, junho 02, 2010

Ferreira Gullar

Ferreira Gullar veio ao mundo em São Luís, Maranhão, 1930. Publicou seu primeiro livro de poesia, Um Pouco Acima do Chão, em 1949. Recebeu prêmio, em 1950, pelo poema Galo, no concurso literário do Jornal das Letras, do Rio de Janeiro. No ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a colaborar na imprensa carioca com poemas e críticas de arte. Entre 1955 e 1959 participou da primeira fase do movimento da Poesia Concreta. Em 1959 rompeu com o Concretismo e publicou o Manifesto Neoconcreto no Jornal do Brasil. A partir de 1961 participou do movimento de cultura popular, integrando o CPC e a UNE. Foi preso, em 1968, e seguiu para o exílio político na Europa em 1971. Em 1975 foi publicado Dentro da Noite Veloz; seguiram-se Poema Sujo (1976), Antologia Poética (1977). Em 1977 recebeu o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano. Nos anos de 1980 publicou Na Vertigem do Dia (1980), Toda Poesia (1980), Crime na Flora ou Ordem e Progresso (1986), Barulhos (1987); na década de 1990 saíram Formigueiro (1991) e Muitas Vozes (1999), com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia em 2000. Inicialmente adepto do Concretismo, Ferreira Gullar posteriormente optou por uma poesia mais discursiva, em que os versos ora incorporam elementos da literatura de cordel, como em João Boa-Morte, Cabra Marcado para Morrer (1962), ora se voltam para as tensões sociais e políticas do homem brasileiro, como em Dentro da Noite Veloz (1975) e Na Vertigem do Dia (1980).
Na foto, Ferreira Gullar no Festival de Poesias do Colégio São José, Petrópolis, RJ,  em 1983. O carinha feinho (com um bigode de gosto discutível) é o dono desse boteco. Na ocasião, Gullar foi o presidente do júri e foi ele quem me deu o troféu de primeiro lugar do certame. Eu estava no último ano do ensino médio.
O coordenador do festival, Paulo César Boarin, fez uma bela homenagem ao apresentar o poema Traduzir-se. O poema é de Ferreira Gullar e a música é do Fagner. Confira a letra e a música.



Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


De Na Vertigem do Dia (1975-1980)

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