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domingo, junho 08, 2008

UMAS E OUTRAS

ARGUMENTO
Pedem para falar um pouco dos bastidores de nosso jornalismo. Não consegui escrever sem atirar para todos os lados e até para mim mesmo. Aqui escrevo jornalismo para todos aqueles que não entendem – ou tentam entender – essa profissão. O que vale aqui é o estado de espírito.

CAPITULO 1
Conversa de jornalista é coisa de mala. Repare: a arrogância é maior do que o talento.

CLINICO GERAL
É aquele jornalista especializado em porra nenhuma, mas é capaz de dar seus pitecos em tudo quanto é assunto. É capaz de falar tanto da bolsa de valores como das células tronco.

EDITORES
São aqueles caras que já ralaram como repórteres e acham que agora podem mostrar o que sabem como editores. Seus amplos conhecimentos do jornalismo – as vezes adquiridos por osmose – garantem o cargo.

SALÁRIO
Editores ganham mais do que os repórteres. É porque trabalham mais. Depois fazem as contas e descobrem que um repórter ganha o dobro deles, justamente por ter tempo de trabalhar em duas empresas diferentes.

PARA ONDE VÃO?
Uma vez que foram repórteres e agora são editores, para onde vão eles depois? Alguns se transformam em duendes, gnomos, mas fazem planos para ser donos de jornais.

REDAÇÃO
É o local onde os jornalistas se concentram. É um estranho escritório em que o telefone toca e ninguém atende e sempre há uma televisão sem som. E que ninguém assiste.

FOTÓGRAFOS
Vivem em bandos, principalmente depois do serviço. Só falam de lentes, zoom e mulheres. Principalmente pelos ângulos e glúteos.

REPORTERES
São aqueles que tentam ser educados e chatos ao mesmo tempo. Geralmente eles se enquadram apenas na segunda opção.

ANOTAÇÕES
Os repórteres têm sempre uma caneta (nem sempre a mesma, pois ele perde na mesma proporção em que furta outras) e um bloco, ecologicamente reciclado de outras matérias.


GRAFIA
Não tente entender o que o repórter escreve. São garranchos e hieróglifos que ele mesmo não vai saber entender quando voltar para a redação.

GRAVADOR
Repórteres de jornal anotam, mas é lógico que os radioreporteres tem sempre um gravador. As vezes percebem que não tem pilha. Nem mesmo a fita.

ASSESSORES
Assessores de imprensa acham que são jornalistas, mas não conseguem explicar o básico do jornalismo: tornar uma informação pública. No caso dos assessores, eles escolhem o que pode ser público e escondem aquilo que não pode.

PAUTEIROS
São os responsáveis pela produção da reportagem, desde a sua origem. São apenas lembrados quando algo dá errado. Descobrem o fato, apuram, agendam entrevistas, indicam perguntas, questionam a situação. Coloca a bola na cara do gol. E o repórter vai lá, chuta e sai correndo para comemorar com a galera.

FOCA
É o nome do jornalista recém-formado. Superprestativo, nunca é reconhecido por mais que se esforce. Esses jovens foram preparados para substituir o Bonner e a Fátima Bernardes e agora não sabem explicar porque erram tanto no português ao escrever em um jornal impresso.


GLOSSÁRIO
O jornalismo tem uma linguagem própria que pode variar de estado e região. Um exemplo é a linha fina, aquele sub-título debaixo da manchete de página. É também é chamado de olho e até de sutiã.

ME LEMBRO
Estava eu na Tribuna da Imprensa, no Rio, quando o editor disse: “dê uma sugestão de título e coloca um sutiã’.

E EU
Não sabia se era gozação. Discretamente perguntei para um amigo ao lado o que era o tal do ‘sutiã’.


E ELE
Sem muita paciência, falou alto: “é aquilo que sustenta, pô!” E mostrou uma linha-fina para mim.


ZANATA
Termo usado em Maringá, em O Diário, durante a chefia do Edivaldo Magro. “Faz um Zanata!” . O termo se refere ao jornalista Marcos Zanata, o mais alto jornalista da cidade. É o mesmo que ‘Faça uma matéria grande!”

JOSI
Ao contrário de um Zanata, Josi é uma matéria curta, proporcional ao tamanho da jornalista Josi Costa.

BULGA BOX
É o antecessor do ‘saiba mais’, um box com mais informações sobre a matéria. O Edvaldo, ao invés de me pedir um ‘saiba mais’, falava: “Faz aí um bulga box!”.


ISOLDA
A música de Isolda – Um jeito estúpido de ser - eternizada por Roberto Carlos, era geralmente cantada pela jornalista/cantora/compositora Josi Costa. Um hino diretamente associado ao estado de humor do editor-chefe.


BERÇÁRIO
Nome dado à redação do Diário pelos seus próprios jornalistas. Ao contrário das tradicionais redações do país a fora, é um local tranqüilo, sério até demais. E como todo berçário que se preze, de vez em quando alguém abre o berreiro.

3 comentários :

Anônimo disse...

Boa Marcelo Muito Boa
Ivan

Anônimo disse...

Legal, Marcelesa. Dei risada pra caramba. é bem tudo isso que você escreveu mesmo. Genial.

Nanda disse...

Eu sou uma foca, DESFOCADA do mundo do jornalismo. Acho que falta de persistência minha e um campo mto minado me tiraram deste meio... Mas confesso: gosto. Ou não. rsrs

Adorei este post... Muito engraçado.