Módulo IV
Mais uma parte de 'Jornalismo básico para principiantes' dentro da campanha mantenha os adolescentes longe do jornalismo'.
Errata
E quem não erra? Dizem que todo jornalista pode, mas não deve errar. Já teve redação em que o editor-chefe era tão arrogante que estampou no quadro de avisos: “Errar é para humanos”. Talvez, o mais humano ali era ele, pois era o que mais errava.
Grande matéria
Sabe quando as coisas se juntam e dá tudo certinho? Pauta boa, entrevistado bom, repórter afinado, editor feliz. É dia de festa, mas não comemore. No jornalismo, carruagem volta a ser abóbora em questão de minutos.
Imprensa
Já foi sinônimo de jornalismo. Hoje, basta ter um fiat, colocar um adesivo ‘imprensa’ e publicar um jornaleco ou manter programa de tevê meia boca e sair por aí. Alguns se auto-intitulam jornalistas e acham que podem dar carteiradas, isto é, entrar sem pagar nos estádios, cinemas e eventos diversos.
Jabá
Quem nunca recebeu um jabá que atire o primeiro mimo! A palavra veio de ‘jabaculê. São presentes oferecidos aos jornalistas como ‘instrumento de relações públicas’ pelas empresas. Eticamente, aceitar um presente desses é algo questionável. Pelo menos por parte do jornalista, pois o patrão adora esses mimos. E se alguém recebe um jabá, você nunca fica sabendo pois o cara não sai por aí contando.
Larga o pau
Ou desce o pau, mete o pau. Frase típica de chefes ou editores quando eles estão com pressa e não estão com saco para ouvir a narrativa do repórter que acabou de chegar da rua com a matéria. Editores odeiam repórteres narradores, principalmente os detalhistas.
Nariz de cera
Antigamente era abertura de uma matéria com falta de objetividade. Parecia um texto literário e a noticia só surgia no último parágrafo, após diversas considerações. Vício comum de universitários que foram amestrados em TCCs.
Ouvir o outro lado
Isso se aprende na faculdade. Regrinha básica que pode deixar a matéria isenta, mas jamais imparcial. Afinal, uma matéria deve começar com uma das versões dos envolvidos na reportagem. Essa escolha já é parcial. Só o leitor não sabe disso.
Parem as máquinas!
Frase hollywoodiana que se ouve em filmes. Acontece quando o repórter chega com um furo de reportagem e manda parar as máquinas com a ilusão de republicar uma nova manchete. Jamais tente fazer isso. Primeiro, porque é impossível. Ninguém vai te ouvir devido ao barulho infernal da gráfica. E mesmo gritando no ouvido do chefe do setor, ele vai mandar você se fuder.
Facão
Ou passaralho. Demissão em massa numa redação ou grupo jornalístico. O principal motivo é a famosa contenção de despesas, mas como a escolha de quem vai pra rua cabe geralmente ao editor chefe, esse se utiliza de critérios pessoais para dispensar seus desafetos ou a repórter que não dá mole pra ele.
Caça as bruxas
Frase que surge na cabeça do jornalista quando um respeitado colega é demitido sem uma justificativa aceitável. A direção vai negar a existência da temporada de caça, mas até aí já conseguiu o efeito psicológico pretendido.
Pauleira
Ou 'bico do urubu'. Situação em que o horário está apertado e as coisas estão sendo feitas às presas. Pra quem está de fora, acha um desperdício de energia ver essa juventude (pouco) bronzeada se desgastar tanto e produzir tão pouco.
“Dá seus pulos!”
Frase de editor irritado diante de um repórter que indaga mais do que produz .
Pingue- pongue
É a clássica entrevista de pergunta e resposta. Para muitos, é a forma mais fácil de fazer um texto, mas é um saco ficar decupando (reproduzindo) a gravação da fita. E quando o entrevistado fala uma frase inteligível, o repórter, já de saco cheio, corta essa parte da entrevista e não conta pra ninguém.
Plantão
Assim como médicos, há jornalistas que fazem plantão. Quem fica na redação aos domingos e feriados, torce para acontecer uma tragédia, contando que ela não ocorra nos minutos finais daquele expediente. E com certeza, será nessa hora que as coisas vão acontecer.
Hora-extra
A carga horária de um jornalista é de cinco horas. Portanto, é obrigado a produzir nessa escassa margem de tempo o que teria que fazer em oito ou dez horas de trabalho. Como isso é impossível, o jornalista faz hora-extra e não tem esperança de receber nada por isso. Agora você entende a razão dos jornalistas serem tão assediados por advogados trabalhistas.
Povo fala
O telejornalismo e radiojornalismo adoram. Hoje também são conhecidas como enquetes. São as entrevistas com o povo. Tudo é gravado para evitar entrevistados engraçadinhos, gagos e fanhos.
Por do sol
Quando o editor de fotografia está desesperado, no bico do urubu, e não encontra uma foto ideal para abrir aquela matéria do caderno de turismo, ele apela para o ‘por do sol’. Entenda: um por do sol, tendo o mar e uma palmeira como complemento, é igual em todos os lugares. Ninguém percebe o truque.
Prêmio Esso
Ganhar um prêmio desses, o principal da imprensa brasileira, é o sonho de muitos. Pode ser o grande momento da carreira, sobretudo para os repórteres. Já os editores ou quem não teve participação direta na reportagem, basta dizer que fez parte da equipe e espalhar seu currículo pelos jornais do país.
Puta velha
É o mesmo que ‘dromedário’, jornalista veterano. Se você está chegando agora na redação, respeite os ‘dromedários’ e evite esse tipo de abordagem já que não tem intimidade com ninguém.
Querida
Frase muito utilizada nas revistas femininas e também nos cadernos dos jornais, muitas vezes editados por mulheres. Elas chamam todos de querida, de querido ou de amor. Se uma jornalista lhe chamar de ‘olha aí, bonitinho’, não fique lisonjeado. Há sempre uma pitada de ironia feminina nessas colocações.
Encomendadas
Se você é repórter e recebe uma pauta estranha tipo ‘entrevistar o presidente do Rotary para ele narrar as férias dele em Bora Bora’, não se espante. Entre a redação e a direção do jornal há mais mistérios que sua vã filosofia. Questione a pauta como o pauteiro e ele vai se limitar a apontar o indicador para o céu. Agora você entendeu de onde partiu a ordem?
Release
Material enviado por assessores de imprensa aos editores. Esses, quando percebem que o release é muito completo, retiram alguns dados que facilitariam a vida do repórter, e mandam ele se virar. Se o repórter não conseguir retornar com esses dados, vai ser questionado pelo editor. Afinal, eles sabem de tudo. Graças ao release.
Rendeu a matéria?
O mesmo que ‘virou?’. Pergunta feita pelo editor quando o repórter retorna da rua. Se não rendeu, prepare-se para ver um editor mau humorado e carrancudo que com certeza vai falar mal de você. Nesses casos, o repórter nem sabe como se explicar, porém vai tentar narrar os problemas que teve. Truque inútil.
Retranca
É a palavra que identifica a reportagem da redação. Em rádio e telejornais, a retranca inicial não pode ser modificada. Caso contrário, o apresentador chama uma matéria e aparece outra. E fica com cara de bocó.
Senador
Expressão em desuso para aqueles que tem cargo importante numa redação, mas trabalham pouco. Cuidado: pode ser alguém da diretoria. Atualmente, uma pessoa nessa situação é aquela que está fazendo as contas para se aposentar e que a empresa não o reconhece como empregado, mas como mobília.
Sim ou não
O mesmo que ‘de um a dez!” . Expressão masculina pronunciada por um jornalista quando surge uma boazuda na redação.Em seguida, cada colega dá uma nota. A boazuda não percebe, ou finge não perceber.
Tá do caralho
Expressão usada quando a matéria tá porreta, muito boa. Por uma questão de gênero, algumas jornalistas já tentaram mudar essa expressão, mas o resultado ficou esdrúxulo.
Um comentário :
A nota com o título "Imprensa" é uma verdade absoluta. Já fiz assessoria de imprensa em eventos como Expoingá e jogos de futebol. E como aparece jornalistas interessados em cobrir esses eventos. Fazem de tudo por uma credencial. e ainda, mulher do apresentador vira cabo-womam, o filho dele vira editor, apresentador de programa de esporte se interessa por leilão de cavalos, apresentador de programa rural quer se cadastrar para entrevistar jogador de futebol... e ai vai. Esses jornalistas adoram uma carteirada.
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