Transcrição da matéria "Almanaque do Barão de Itararé"
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"Este mundo é redondo, mas está ficando chato. Nem tanto."
De hoje à noite em diante, ele ficará pelo menos mais engraçado, para os que se dispuserem a trocar NCz$ 420 por um dos 300 exemplares do Almanhaque (O Almanaque D'A Manha), publicado em 1955 pelo autor da frase, Aparício Torelly, o Barão de Itararé.
O almanaque, com projeto gráfico e produção executiva de José Mendes André e Sérgio Papi, está sendo lançado hoje, a partir das 20h, na Livraria Dazibao (Ipanema), na sua versão completa e original — até nos erros de português. Trata-se de um livro de luxo, em papel classique, com edição limitada a 1.000 exemplares (para o Rio, a editora Letra e Imagem reservou apenas 300), uma raridade para quem disputa a tapas, nos sebos, qualquer publicação d’A Manha, colocada no mercado por algum herdeiro de colecionadores.
Mas se o leitor é mais uma das vítimas da "elevação vertiginosa e cada vez mais incontrolada do custo de vida" — de que já falava o Barão num pequeno editorial do almanaque — pode sorrir amarelo e se conformar com a explicação de Aparício Torelly para a constante elevação de linguagem de seu jornal:
"...Sentimo-nos na obrigação moral de majorar o tratamento dispensado aos nossos ‘caros leitores’, que, daqui por diante, até novo tabelamento, serão chamados de ‘caríssimos’ leitores."
O Barão e Seu Legado
Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly — nascido no Rio Grande do Sul em 1895 — e que se denominou Barão por conta própria —, publicou três Almanhaques. Todos, em São Paulo, em parceria com o companheiro de pândegas e de imprensa, Andrés Guevara, um paraguaio que mudou a cara dos diários brasileiros (fez a reforma gráfica da Ultima Hora, de Samuel Wainer, em 1950).
O primeiro almanaque foi publicado em 1949; o último no segundo semestre de 1955. O da edição em lançamento é o segundo, publicado no primeiro semestre de 1955 também.
"Eu só conhecia o Barão de Itararé através das piadas que meu pai contava. Mas ganhei do Zezinho Resende André o almanaque de 55. Fiquei impactado e resolvemos editar o livro", diz Sérgio Papi, que já tem planos para lançar o de 1949.
O Almanhaque contém uma breve biografia de Aparício Torelly. Ele morreu solitário em 1971, no seu apartamento em Laranjeiras, estudando temas esotéricos — depois de uma vida agitada por casamentos infelizes, quatro filhos, diversas prisões durante o Estado Novo e uma rápida passagem pela Câmara do Distrito Federal, em 1947, como vereador do PCB.
O mais importante, porém, é que o livro traz, pela primeira vez na íntegra, uma obra do Barão de Itararé — já foi objeto de uma biografia do jornalista Cláudio Figueiredo e das Máximas e mínimas, de Afonso Félix.
"Procuramos mostrar o todo, com o que há de melhor e de pior", conclui Sérgio Papi, como já concluíra o próprio Barão, numa máxima de pé de página do almanaque:
"Todos gabam o vinho que bebo, mas não sabem dos tombos que tomo."

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