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terça-feira, julho 17, 2018

Jorge Luis Borges







A lua ignora que é tranquila e clara

E não pode sequer saber que é lua;

A areia, que é a areia. Não há uma

Coisa que saiba que sua forma é rara.

As peças de marfim são tão alheias

Ao abstrato xadrez como essa mão

Que as rege. Talvez o destino humano,

Breve alegria e longas odisseias,

Seja instrumento de Outro. Ignoramos;

Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.

Em vão também o medo, a angústia, a absorta

E truncada oração que iniciamos.

Que arco terá então lançado a seta

Que eu sou? Que cume pode ser a meta?




Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"


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