quarta-feira, agosto 10, 2011
A Divina Comédia
Dante Alighieri
(...)
"E a ambos me dirigindo, eu disse, atento:
"Francisca, a triste história que narraste
move-me ao pranto e a grande sofrimento.
Revela-me a razão porque passaste
do puro anelo e do inocente amor
à culpa amarga que tão cedo expiaste".
"Não existe", falou-me, "maior dor
que recordar, no mal, a hora feliz;
e bem o sabe, creio, esse doutor.
Mas já que o nosso amor desde a raiz
ansiosamente queres conhecer,
narrá-lo vou, como quem chora e diz.
Estávamos um dia por lazer
de Lancelote a bela história lendo,
sós e tranqüilos, nada por temer.
Às vezes um para o outro o olhar erguendo,
nossa vista tremia, perturbada;
e a um ponto fomos, que nos foi vencendo.
Ao ler que, perto, a boca desejada
sorria, e foi beijada pelo amante,
este, de quem não fui mais apartada,
os lábios me beijou, trêmulo, arfante.
Galeoto achamos nós no livro e autor:
e nunca mais foi a leitura adiante.'
(...)
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Belo Horizonte, Villa Rica, 1991, pág. 144
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