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sábado, junho 04, 2011

A Noite dos Mortos Vivos









Texto de Sylvio Gonçalves - publicado na revista Cinemin numero 76 - editora Ebal - abril 1992

ORÇAMENTO baixíssimo, elenco de amigos, equipe técnica televisiva e muito talento - ingredientes usados pelo então diretor de comerciais George A. Romera para cometer um dos filmes mais apavorantes de todos os tempos. Filmado apenas em fins de semana, Night of the Living Dead (não exibido no Brasil) tornou-se um marco do Cinema de Horror. Foi o primeiro a tratar a figura tradicional do morto-vivo sem sobrenaturalismos, e também um precursor do horror "seco": apesar de alguns momentos góticos estilizados pela fo¬tografia em preto-e-branco, Romera imprimiu à narrativa da ocupação da Terra par desmortos (*) um estilo direto, quase documentário.
(*) Palavra muito utilizada, em Ficção Científica. que significa zumbi.
BARBARA (Judith O'Cean) e seu irmão estão visitando o túmulo do pai num cemitério remoto quando são atacados por um homem de aparência estranha. O rapaz é morto. mas Barbara consegue escapar para uma cabana deserta, onde encontra Ben (Duane Jones). um negro. Ele tranca desesperadamente a casa, sem muita ajuda de Barbara, que entrou em estado de choque. Enquanto trabalha, Ben explica que a maior parte das cidades próximas foram infestadas por esses maníacos, e muitas pessoas foram mortas por eles.
Ao descer ao porão, Ben surpreende-se ao descobrir que algumas pessoas já estavam refugiadas lá: um acovardado e racista pai de família, a esposa e a filha, e um casal de jovens. Assim começa a batalha, pontuada por divergências internas, do grupo contra essas criaturas que aparentemente não podem ser abatidas. Uma batalha que eles não têm chance alguma de vencer.
A explicação para o fenômeno vem através de um notíciárío de tevê: os maníacos na verdade são cadáveres reanimados por ação de um vírus desconhecido trazido por uma sonda espacial ao retornar de .Vênus.
MASSACRADO por parte da crítica, idolatrado por outra, o primeiro filme de George Romero chocou os espectadores por não diluir a tensão com histórias de amor ou elementos cômicos. Romero mostra terror desde a primeira cena, e continua construindo um clima implacável de terror ao longo do filme, à medida que os zumbis aumentam em número, parecendo invencíveis. Embora o filme tenha ficado como precursor do horror sangue-e-pus, muito pouco é mostrado na tela, sendo as cenas mais fortes apenas sugeridas ao espectador.
OS zumbis de Romero diferem do tipo consagrado pelos filmes de vampiro ou pelas revistas em quadrinhos da EC Comics, por não serem movidos por almas vingativas. Eles não passam de corpos que, tendo sido reanimados como estavam no momento da infecção (mutilados ou em estado inicial de decomposição), estão apenas com o cérebro funcionando, mas sem recordação alguma; seu único estímulo é o consumo de carne humana para manterem¬se animados. Isso que os torna tão assustadores - não há vestígio de humanidade neles. Mesmo corpos que pertenceram a entes queridos dos personagens podem matá-Ias sem compaixão.
Na maioria dos filmes sobre a ameaça do mal absoluto (O Exorcista, por exemplo), sempre nos é assegurada a existência de uma força benigna de igual poder. Autêntico exemplar de horrar agnóstico, Night of the Living Dead não nos permite esse conforto. Ao fim da película, estamos profundamente angustiados pela mais antiga dúvida humana: será que não passamos de bonecos de carne?
'George Romero, John Russo e Russel Streiner contam que tiveram a idéia do filme durante uma festa em que sanduíche de provolone e bebiam cerveja. Os três conseguiram juntar 114 mil dolares em dinheiro, e o resto da produção foi possibilitada por favores. Se fossem pagar, o orçamento chegaria a meio milhão de dólares.
Depois de rejeitado pela Columbia por não ser colorido e pela American International Pictures porque não tinha romance nem final apoteótico ou feliz, o filme foi vendido para a Reade Orqanization, que o lançou pela Continental Release. Night of the Living Dead jamais foi lançado em circuito comercial no Brasil, nem lançado em vídeo selado.
Inexperientes, Romero e os amigos assinaram o contrato cedendo os direitos para a Reade. Ficaram vendo o sucesso e a elevação do filme a cult sem terem recebido um centavo da bilheteria até hoje. Por isso que o filme foi lançado em vídeo por mais de seis distribuidoras diferentes, inclusive numa versão colorizada, repudiada pelos autores.
Impossível estimar quanto diretor Romero e Cia. deixaram de ganhar, mas o filme certamente rendeu qualquer numero de três dígitos seguidos por seis zeros.
Judith O'Dea, que interpretou Barbara, dá hoje aulas de etiqueta numa companhia de aviação. Inicialmente seu papel seria da caricaturista Judith Ridley (que no filme faz o papel de Judy), por ser bonita. Mas O'Oea era a Judith mais rica e abdicou do cachê e pôs dinheiro do próprio bolso na produção - ganhou o papel.
A escassez de figurantes obrigou Romero a fazer o papel de um repórter de tevê e John A. Russo o de um militar em Washington e um dos zumbis.
Night não é apenas um dos filmes de horror cujo personagem negro sobrevive durante a maior parte do filme. É também o primeiro a coloca-Io como
mocinho.
A versão original tinha cerca de 106 minutos, mas a Reade cortou para 90. Romero jamais conseguiu restaurar o filme.
Romero produziu duas sequencias de Night: Zumbi - O Despertar dos Mortos /1979 e O Dia dos Mortos/1985. Além da refilmagem dirigida por Tom Savini em1990.
O sucesso A Volta dos Mortos Vivos /1985, de Dan O'Bannon, é uma continuação disfarçada do filme (a trama considera o clássico de Romero Gomo inspirado em eventos reais), assim também com sua continuação.
Russel Streiner, produtor do filme e o ator que interpreta Johnny, o irmão de Barbara, hoje tenta prodizir uma série de tevê baseada no filme.

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