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sábado, novembro 20, 2010

Há 30 anos, Serrano vencia Flamengo por 1×0

Fonte : Acontece em Petrópolis
Me lembro desse jogo. Morava na rua Major Sérgio, Mosela, perto do Estádio Atílio Morotti. As ruas estreitas ficavam entupidas de carros. Ouvia o jogo pelo rádio. Não fui ao estádio. Sabia que o  Flamengo, o melhor time do mundo naquele ano, enfrentaria o nosso frágil Serrano. O equivalente ao Real Madri encarar o Gremio Maringá. E o jogo também marcou o recorde de público do estádio: 14.994 torcedores.Neste jogo, a consagração do goleiro Acácio, do Serrano, que agarrou um penalti de Zico, o todo poderoso. E a imortalidade de Anapolina, jogador do Serrano, que fez o gol decisivo tendo na frente o famoso Raul, hoje comentarista de futebol. 


O dia é 19 de novembro de 1980.
Exatamente há 30 anos a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, viveu o seu dia mais importante no futebol. Conhecida por Cidade Imperial, Petrópolis também entrou no roteiro futebolístico quando o Serrano, principal clube da cidade, disputou o Campeonato Carioca da 1ª divisão, entre 1979 e 1981. Das três edições disputadas, a melhor colocação obtida foi em 1980, com o 7° lugar. E neste ano, no 2° turno, o Serrano teve participação decisiva.
No dia em que se comemora a Bandeira Nacional, nunca a flâmula do Leão da Serra mereceu ser tão festejada. Numa quarta-feira chuvosa, o jogo válido pela 8ª rodada do 2° turno do Carioca entre Serrano e Flamengo quase foi adiado. A chuva que caiu em Petrópolis deixou o campo impraticável. Com o calendário apertado, o presidente rubro-negro Márcio Braga bem que tentou, mas o técnico Cláudio Coutinho não queria jogar em outra data.


- Tive a felicidade de enfrentar Zico, Adílio e Andrade. Foi um prazer e um desprazer ao mesmo tempo, porque era muito difícil jogar contra eles – lembra o zagueiro Paulo Ramos, titular do Serrano naquele dia.


Outro craque que lembra até hoje da derrota, descreve a situação do campo e as condições do jogo que resultaram em um dos maiores vexames da história do Flamengo.


-Faz tanto tempo que não tenho detalhes daquele jogo. O que posso dizer é que o Acácio fez o maior jogo da vida dele e que o campo estava sem condições. Tinha chovido muito e a neblina era intensa. Pouco se via do jogo. O Flamengo quis jogar mesmo com o campo naquelas condições – relembra o goleiro Raul Plasmann. Foi surpreendente. O Acácio fez uma das partidas mais impressionantes que vi um goleiro fazer. Ele acabou com a partida. Ele já conhecia o terreno. Eu não queria jogar, me sentia morto com aquela neblina à noite – complementa o arqueiro.


Por volta das nove horas da noite, o árbitro Aloísio Felisberto da Silva deu início à partida. Defendendo o Serrano estavam Acácio, Paulo Verdan, Paulo Ramos, Renato e Cândido; Israel, Moreno e Welington; Humberto (Gilberto), Luís Carlos e Anapolina. O técnico era Luís Carlos Quintanilha. No Flamengo, o time foi a campo com Raul, Leandro, Luís Pereira, Marinho e Júnior; Vítor, Adílio (Andrade) e Zico; Tita, Anselmo e Edson (Júlio César Uri Geller).


Diante de 14.994 torcedores nasceu uma das maiores zebras do futebol carioca. O Serrano logo começou a imprimir seu ritmo, tendo as primeiras chances de gol. Aos dezoito minutos de jogo, Anapolina toma a bola de Zico no meio-campo e passa a bola para Humberto. O lateral dá a bola ao centroavante Luis Carlos. O atacante tenta o chute para o gol; a bola resvala em Luís Pereira, tira a zaga do Flamengo do lance e Anapolina bate para o gol, sem chances para Raul.


A torcida explodiu sem acreditar no que via. A festa tomou conta dos torcedores. Eles estavam não só nas arquibancadas, mas também no morro, atrás do placar e nas casas vizinhas do Estádio Atílio Marotti. E a festa continuou até o final da partida, graças à atuação inesquecível de Acácio, que salvou o time nas poucas oportunidades que o adversário teve até o apito final. Anapolina escrevia seu nome na história. Era ele o responsável pelo fim do sonho do tetra rubro-negro.


- Naquela partida, eu quase não vi o Flamengo em campo, porque ele sumia quando estava no ataque, com tanta neblina na minha frente. Depois do jogo, não teve conversa. É como quem diz: ‘fizemos o possível, e não tem nada do que se envergonhar. Se fosse num campo seco, a história seria outra. Daquele jeito, era mais fácil destruir do que construir’. Brincaram muito com a gente com a história do Anapolina. Mas, se eu levei gol do Cafuringa, que marcou sete vezes na carreira inteira, vou me importar com gol do Anapolina? – completa Raul.


Zico sofreu uma distensão muscular nesse dia e ficou ainda quatro meses sem atuar. O maior ídolo rubro-negro e o goleiro da geração mais vitoriosa da Gávea lamentam que essa derrota tenha custado o tetra estadual, título que o Flamengo persegue até hoje.


- O campo ficou num estado muito ruim (com a chuva e neblina). Isso prejudicou a qualidade do jogo. O Flamengo, que tinha um time mais técnico, não pôde impor seu ritmo. Foi um jogo duro, mas não violento. Aliás, praticamente não houve futebol, devido ao estado do gramado – disse o Galinho.


- A fase ruim daquele Flamengo não durava mais do que 90 minutos. Se perdia o Carioca, ganhava o Brasileiro em seguida. Perdemos o tetra estadual, mas depois ganhamos Brasileiro, Libertadores… Não se pode ser tudo – finaliza Raul.

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