segunda-feira, junho 08, 2009
Umas e Outras
(ilustração - Revista de Comunicação - n12)
O caso
O vice-presidente José Alencar junto com o governador do Rio Sérgio Cabral sentiram na pele, mas temo que já se acostumam e acham que isso é normal.
O assunto
O avião da Air France caiu e Alencar, recém-operado, participou de uma ‘coletiva’ com a imprensa para falar do assunto.
Entenda
Um airbus caiu com mais de 200 passageiros e os entrevistados eram o governador do Rio e o vice-presidente da República. Alencar estava falando como presidente do País, uma vez que Lula estava em El Salvador.
Improviso
Entre os repórteres e cinegrafistas o mesmo de sempre: quem vai perguntar, não importa a pergunta. E vale repetir ou pegar carona nas respostas dos outros. É improvisação, é imprensa, é Brasil.
Frase
“É um corpo-a-corpo trágico, cômico e ridículo. No Brasil, entrevista coletiva é sinônimo de um diálogo do impossível”, escreveu, certa vez, a jornalista Magna de Almeida.
De lá pra cá...
Interessante é que essa declaração da Magda foi feita há 20 anos. E nada mudou. Nada.
Violência
Muitos entrevistados já sentiram isso na pele. Já vi entrevistados levarem uma porrada na cara devido a um “microfone assassino”.
Em fuga
Não é a toa que artistas saem apavorados dessas entrevistas. Fogem protegidos por seguranças que não poupam truculência até mesmo com as nossas frágeis – porém determinadas - repórteres de tevê.
Receita
Uma entrevista coletiva é uma aventura que mistura rostinhos bonitos, repórteres pretensiosos, focas estressados, empurra-empurra e gente machucada por câmeras. É uma verdadeira pororoca de mídia. Se procurar bem, vai encontrar até fotógrafo pendurado no teto.
Ao vivo
Na mesma entrevista concedida pelo presidente Alencar, entrou ao vivo um repórter que queria fazer ‘uma passagem’ tendo o fuzuê de repórteres como pano de fundo.
E pasmem!
Ele se irritou com a confusão (como se não estivesse participando dela) e empurrou uma repórter baixinha que tentava atravessar o bloqueio formado por cinegrafistas grandalhões. Isso tudo ao vivo pela Globo News. ‘Eu se divirto’, diria o Lukas.
E a noticia?
O resultado desse espetáculo deprimente é que no final das contas, a informação ficou em segundo plano. O clima é de non sense, surrealismo puro.
Educação zero
E descobrimos logo que são poucos assessores de imprensa que sabem organizar entrevistas coletivas e jornalistas com o mínimo de educação. Aliás, aquele que tiver educação é quem não vai conseguir fazer nada mesmo.
A regra
Na coletiva brasileira, o importante é ouvir o entrevistado sem ao menos saber o que ele está falando.
Bloqueio
O repórter que chegar atrasado (como aquela menininha que foi empurrada ao vivo), ainda terá a chance de contar com a mão amiga de um colega que poderá segurar microfone ou gravador mais perto do entrevistado.
Por outro lado...
Há cinegrafista que reclama que teve o cabo da câmera puxado por um outro “concorrente”.
As organizadas
E esse clima non-sense – digno de um filme do Monty Python – acontece até mesmo nas “coletivas organizadas”. Aqui, quem dita as regras é a televisão. Só no Brasil para isso ocorrer.
Origem
Tudo começou com a Globo ainda na década de 70 quando os entrevistados eram convencidos de que aparecer no canal da Vênus Platinada era o melhor palco do mundo.
Também quero!
E essa praga continua até hoje e pior: as demais emissoras entenderam que também devem se comportar assim. É uma desgraça que começa antes, durante e depois da coletiva.
Coletiva exclusiva
As tevês querem fazer as primeiras perguntas e depois pegam o entrevistado pelo braço para fazer a “exclusiva” num canto da sala. É meu caro... Só no Brasil que uma entrevista coletiva é sinônimo de exclusiva.
Papagaio
E o entrevistado repete tudo aquilo que já falou. Depois ele vai repetir o mesmo para as rádios.
Nas rádios
Não é raro quando um ‘comunicador’ resolve fazer perguntas pelo telefone do repórter. Como nem sempre esse ‘comunicador’ de rádio é um jornalista (geralmente é um clínico geral de boteco), acaba fazendo as mais cretinas perguntas para o entrevistado.
Meninos, eu ouvi...
Um “comunicador” perguntando sobre a castidade do padre numa coletiva sobre a campanha da fraternidade em Maringá.
Enquanto isso...
É a hora dos repórteres dos jornais, já ‘p’ da vida, fazerem as perguntas. Nessa altura do campeonato, o entrevistado já está cansado e irritado. Acha que já disse tudo. E o assessor que faça um release com telefone de contato pois lá da redação, os repórteres vão perguntar tudo de novo. ..
Saideira
Acho que temos que tomar cuidado com as noticias como quem come salsichas. É importante saber como e por quem elas foram produzidas.
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2 comentários :
Proidencial este seu comentário sobre a Air France. Também notei que os jornalistas falam e escrevem a mesma coisa. Tudo uma repetição sem fim.
Na preocupção em copiar os colegas, todos esqueceram de fazer duas perguntas básicas e óbvias:
1- Em que condições estavam os corpos recolhidos? Tinham marcas de queimaduras? (em caso positivo, confirmaria que o avião incendiou antes da queda).
2- A legislação brasileira prevê que em caso de desaparecimento de um corpo o atestado de óbito só poderá ser fornecido após cinco anos. Como ficará, neste caso, a liberação do documernto para pagamento de indenizações?
Em suma: sobram perguntas imbecis e faltam esclarecimentos mais aprofundados. Nossa imprensa está falida.
Hahahahaha.. me senti em uma coletiva de imprensa.
Esta do padre aqui da Arquidiocese eu estava presente e tive o "prazer" de ouvir... kakakakakaka... Se eu não me engano foi na CF do ano passado.
Das coletivas que eu já organizei e/ou já participei a PIOR foi com o Requião. Ele quem conduz a coletiva.
Sem contar o trato todo especial que ele tem nas respostas. Hehehehee.... Sempre BEM CARINHOSO... hahahahaha...
Com "celebridades" também é um saco.
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