Durante os 52 anos de carreira de Ronnie Von, vários lados de sua criatividade foram explorados. Ele começou como cantor, em 1963, fazendo sucesso com a canção A Praça. Apesar de o início de sua carreira coincidir com o auge do programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, nunca chegou a participar da atração. Convidado pela TV Record, ele apresentaria seu próprio programa, chamado O pequeno mundo de Ronnie Von, em 1966.
A atração contrastava bastante com o programa Jovem Guarda, por conter as primeiras demonstrações de influência psicodélica na TV e na música do país. O programa era temático, utilizava elementos fictícios presentes no livro O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, que narra em um ambiente fantasioso a saga de um herói da infância. O programa abriu espaço para que artistas considerados fora do contexto da Jovem Guarda se apresentassem. Os futuros tropicalistas Gilberto Gil e Caetano Veloso marcaram presença, assim como Os Bruxos, primeiro nome da banda Os Mutantes. O crítico musical brasileiro Carlos Calado, sugere no livro biográfico A divina comédia dos Mutantes, que teria sido Ronnie Von o responsável pelo nome que consagraria a banda internacionalmente como um dos impulsos de psicodelia mais fortes do fim dos anos 1960. Segundo Carlos, Os Bruxos se tornaram atração permanente no programa de Ronnie, e na época em que Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias alteraram o nome de sua banda, o apresentador estava lendo o livro O império dos Mutantes, e não conseguia falar em outro assunto. A escritora Lúcia Zanetti, em seu blog dedicado à Beatlemania (termo usado para definir fanáticos pela banda britânica The Beatles), descreve a importância de Ronnie Von e do disco Revolver, lançado pelos Beatles em 1966, na formação d’Os Mutantes. “Rita tinha um grupo de seis integrantes, mas brigaram, sobrando apenas ela e os irmãos Baptista, Arnaldo e Sérgio. Por sugestão de Ronnie Von eles formaram os Mutantes e foi assim que no dia 15 de outubro de 1966, lá estavam Ronnie e Os Mutantes na estreia do programa, ocasião em que tocaram quase todo o disco Revolver”.
O entusiasmo de Ronnie Von com o tema psicodelia colocou-o em contato com muitas referências culturais no fim dos anos 60. A literatura de Antoine de Saint-Exupéry passou a ser recorrente em suas composições. Chegou a ser apelidado de 'príncipe', em referência ao livro O Pequeno Príncipe e também à ruptura que fazia com o estilo já em declínio que tinha representatividade na figura do “rei” Roberto Carlos. Além dos Beatles e do Pink Floyd, Ronnie Von também tomava como base, na hora de compor, uma banda britânica chamada Blossom Toes. De que ninguém nunca ouviu falar. Em 1969, lançou o disco Ronnie Von com uma capa totalmente surrealista e mística e temas que traziam a ideia de transcendência e da busca por algo inalcançável. O crítico Alexandre Dittrich faz uma resenha ao álbum, publicada no site Rate Your Music em 2009. “Indubitavelmente, o melhor disco de Ronnie e, pra mim, possivelmente, o melhor álbum pop já lançado por um brasileiro. Ronnie conseguiu cometer – bem auxiliado, é verdade – um disco antenadíssimo com seu tempo, com excelentes instrumentistas, produção criativa e, sobretudo, lindas canções pop-psicodélicas”. Outros dois álbuns completam a fase experimental da carreira de Ronnie. São eles A misteriosa luta do reino de parassempre com o império de nuncamais, também de 1969, e Máquina Voadora, de 1970. São considerados álbuns conceituais, ou seja, temáticos: todas as canções giram em torno de um universo em comum. Esse tipo de lançamento já era bastante comum no exterior, porém pouco explorado no Brasil. Apesar de bem recebidos pelos jovens, foi ignorado pelos críticos musicais da época, incapazes de receber tais novidades. Hoje a redescoberta da fase psicodélica de Ronnie Von vem permitindo maior contato com artistas atuais com mesmo intuito. Ronnie Von completou 71 anos no último dia 17 e comemorou com a banda Haxixins numa apresentação na TV Gazeta.
(Fonte:O Baú do Edu)
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