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sexta-feira, julho 01, 2011

No supermercado

Retornei agora a pouco do programa Cinema Falado da Radio Cesumar. Como é sexta-feira, pensei em tomar uma cerveja, mas alguma que fosse especial, mais encorpada para esses dias de frio.
Pensei nisso ao chegar no hall do apartamento. O portãozinho que dá acesso ao supermercado fica a uns cem metros e não teria cabimento pegar um carro para ir ao centro de consumo do bairro.
Mas chove e como uso óculos, penso no meu boné. Ele funciona como uma marquise para os olhos. Quem usa oculos sabe disso. Para não subir quatro andares de escada, Ana ficou de encontrar o tal boné. Na sequencia, o jogaria pela janela.
Dez longos minutos depois, ela surge na sacada. Vejo o boné cair em camera lenta... E caiu. Caiu na sacada do vizinho.
Já tinha desistido de ir ao supermercado (eram 9h25 e ele fecharia as 22h). Porém, o vizinho prestativo, informado do infortúnio, resolve colaborar e retorna com o voo do boné.
Enfim, estou no supermercado. Deixei de ser um frustrado para me tornar um nobre e honrado consumidor. E vou descobrindo maravilhas nas prateleiras.
Descubro que agora existe a Bohemia de trigo em garrafinha de 355 ml. Ótimo. Peguei três. Peguei uns cervejas escura e dou como encerrada a minha permanencia no pequeno centro de consumo.
E para atender os consumidores retardatários, somente um caixa disponível, pronto a me esperar.
Descubro que uma das minhas cervejas Petra, escura, estava pela metade. Erro de fabricação. A moça do caixa, encafifada, resolve olhar todas as outras nove garrafinhas para ver se todas não eram iguais. Não eram. Eu avisei. A fila aumenta.
Chega a vez de registrar as cervejas de trigo. Não passam. Não estão cadastradas. Chama a gerente. Chama o rapaz que chama um outro rapaz. E a fila reclama:
É brincadeira!
É caixa dois!
Só faltava essa!
O que está acontecendo aí, hein?
O supermercado vai fechar!
Depois da gerente reclamar que o produto não deveria estar na prateleira, um rapaz surge com o pocket de seis garrafas (na vã tentativa daquele coletivo de cervejas estar registrado). É lógico que não. E tome piadinhas:
Aí, moça do caixa! Tava na hora de ir embora!
São dez horas e um minuto!
Então, um gerente ou coisa parecida resolve fazer o preço da cerveja de trigo o mesmo da Bohemia comum. Sendo assim, vou é levar seis!
Com o supermercado fechado parto cheio de garrafas rumo ao apê. Chove. E tenho apenas cem metros pela frente.
Ao chegar no portãozinho que leva até à rua do meu doce lar, descubro que há um cadeado. O portaozinho do supermercado está trancado!
Retorno em busca do gerente ou coisa parecida. Ele está assustado (com medo de mim?) e retorna com um molho de chaves. “Vamos torcer”, disse ele, pouco confiante.
Finalmente, o portãozinho se abre. Eis um homem livre. Um homem que em busca de prosaico sonho, escapou de um pesadelo.
(As cervejas agora estão lá. Na geladeira. E nem sei se vai dar tempo de tomar alguma ainda hoje...)

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